Saturday, December 30, 2006

[o mais belo]

Escrever para mim é viajar por dentro. É entrar na montanha russa dos vasos que percorrem meu corpo. É tirar a carapaça grossa, é fazer-se frágil e tímida e ser a mais pequena das criaturas.

Escrever para mim, é ser quem não vêem que eu sou, é virar personagem de mim mesma, é tentar amontoar, amassar, encaixar tudo o que não pode ser amontoado, amassado, encaixado. E essas palavras sempre falham em dizer tudo o que precisa ser dito.

São um recorte da realidade apenas. Uma edição. Dentre tantas possíveis.

E eu, que estou sempre fazendo turismo em mim, aprendo e desaprendo com essas palavras.

E têm vezes que elas querem me agarrar pelo braço e sair de joelhos pedindo perdão a todos os que queria ter perto; têm vezes que elas se vestem de raiva, e querem usar todos os palavrões que só aos gritos poderiam expelir um pouco da mágoa e frustração e dor; têm vezes que elas, fracas, são tomadas por uma auto-piedade, por um não-pertencer, por se achar eterna estranha nesta terra azul.

Têm dias que elas acreditam no amor. Acreditam que é possível que duas pessoas se encontrem e passem o resto de suas vidas se re-conquistando, vencendo os defeitos e os mal-entendidos e as fraquezas de cada um. Têm dias que elas têm a certeza de que o amor não é para aqueles que gostam de escrever sobre ele. Que quem o observa, não o vive. E quem o vive não precisa se deter a observá-lo.

Essas palavras que criam teorias que ninguém escuta. Que física alguma se interessaria. Essas palavras que se sentem a mais só das criaturas. Que vão dormir agarradas ao travesseiro e olham para as estrelas sonhando que talvez um dia possa existir alguma vida que lhes dêem um senso de completude. Essas palavras tolas. Que acreditam tão facilmente em tudo. Onde qualquer sorriso é permissão de entrada.

Essas palavras que já sabem quais serão as últimas palavras que serão escolhidas: sempre acreditei na vida.

Porque as palavras e a vida estão sempre em um ringue, com luvas vermelhas nas mãos e nem sempre têm protetores nos lábios e na cabeça, e nem sempre os golpes são justos ou corretos ou éticos. Mas quando chega a hora de contar até dez, entre a vida e nossas palavras, são nossas palavras que devem ganhar e se levantar primeiro. E não tenham dúvida: a vida esperará que nos levantemos e só não será por nós se nós mesmos não o formos.

E disso as palavras sabem, e isso as palavras cantam, e por isso elas têm em si o mais belo nome: amanhã.

E o amanhã pode ser o próximo minuto, pode ser o próximo ano, pode ser o futuro, pode ser o que acabou de chegar: o amanhã é a certeza de que o hoje vale e de que muitos sorrisos ainda enfeitarão nossos lábios. O amanhã é a essência do ser homem: é acreditar que as pequenas coisas fazem essa jornada valer a pena. O amanhã é a caixinha aonde guardamos os sonhos e planos que só nele cabem.



~~~~~~~~~~~~~
que o amanhã que agora chamamos de 2007 venha enfeitado de muitos sorrisos e surpresas boas.

3 comments:

marcos mendes said...

bonito, aqui.

Luiza Holanda said...

essas tuas palavras... mágicas.
feliz 2007, minha amiga.
te amo.

beto said...

Muito lindo o texto.

As vezes não dá um turbilhão na tua cabeça com tantas idéias na cabeça para escrever e sem saber concatenar direito? E elas irem se perdendo, perdendo... e vc nao conseguir se expressar?

Sempre acontece comigo.

Um 2007 inoxidável!!! :)