Sunday, July 09, 2006



[desorganizada]

Não é algo de hoje. O berço já tinha brinquedos de todas as cores e tamanhos por baixo de mamadeira e cobertor, tenho certeza. Uma vez li uma matéria em algum canto [em algum tempo, que alguém escreveu - memória patológica, como muitos já sabem] que falava que certas características de uma pessoa indicam não simplesmente sua forma de ser, mas sua maneira de encarar a vida.

É bem verdade que tenho tentado melhorar. Tudo deixa de ser tragicômico quando você não apenas não lembra aonde guardou o arquivo, mas também o nome que o deu. Tsc tsc tsc. É trágico apenas.

Mas nem tanto. Dramática sempre, não tem jeito.

O que mais amo em ser desorganizada: me redescobrir sempre. São textos e poemas que não lembrava que havia feito e que, quando descubro por acaso em alguma página de caderno esquecida, ou em algum arquivo de nome para lá de temporário, sorrio feliz por me reconhecer nele. Ou reconhecer o que senti quando escrevi ou que senti depois de escrever.

[porque escrever é, para mim, mandar o ruim embora e tatuar o bom em mim]

Ou até mesmo alguma coisinha, algum cartão recebido há tanto tempo, alguma lembrança que me surge assim, de repente, como que da primeira vez. Memórias long gone que me revisitam.

Me sinto* uma velhinha caduca: sempre descobrindo coisas antigas, constantemente. E isso amo. Com certeza.
Me tira uma grande fatia entediante: tudo é sempre novo um dia.

O ruim em ser desorganizada: primeiro, é extremamente desconcertante. Acho que todos já descobriram que o ser humano precisa sempre dizer que venceu o caos, que conseguiu ordenar o mundo a sua volta, conquistá-lo, domá-lo. Segundo, é um bicho solto dentro de mim. Mesmo quando eu decido organizar tudo, pôr tudo em seu devido local e ordem, se eu não estiver sempre me regulando, me vigiando, me relembrando, não dá outra... tudo volta a reinar em seus indevidos lugares.

É como toda luta: às vezes se vence, às vezes não. Óbvio que para o bem-estar daqueles que adentram meu quarto, tento manter certa disciplina. Mas, chegando sem aviso, digo logo, uma ou outra roupa estará no armador do quarto e a outra metade da minha cama gigante estará com os livros que folheei na noite anterior. A sandália de todo dia estará debaixo da escrivaninha e as pilhas recarregáveis [que nunca lembro que estão descarregadas até que precise delas] estarão no guarda-papel em cima do som. É fato.

É bem verdade que já levo tanta coisa tão a sério que acho bom que certas ordens não sejam para mim a coisa mais importante do mundo. E quem disse que o tempo não conta? Conta, sim. Começa no zero e não pára mais de contar. Daí o bom disso é ir se descobrindo vivente, aprendiz, ir saboreando o que vai surgindo... novas pessoas, velhos sonhos, pequenos detalhes, delicadezas inesperadas.

Eu, Lana Nóbrega, sou aprendiz. O resto é desculpável.
Então, já que o altar não tem me chamado, uso este divã gratuito para gritar:

Que toda a culpa de todos os lados sejam neste minuto esquecidas.
Somos todos tão falhos. Tão bobos. Tão fracos.
E, ao momento, tudo cabe. Ao contexto, tudo se explica.
Seria bom que isso fosse sempre percebido.

Sentir justifica toda ação?
Óbvio que não.
Há que existir um filtro. Algo que permeie o lógico. O sensível.
Ainda assim acho essencial que as pessoas aprendam a ler nas entrelinhas.

Nem tudo deve ser dito sempre.
Isso cansa.
Conhecer alguém, ou se sentir conhecido, requer percepção.
Bem-querer, cuidar, dar colo: requer percepção.
Reconhecimento de um momento, de um contexto.

E, por incrível que pareça, ainda falo de organização.

E, mais uma vez, louvo aos céus minha memória inválida.
Porque esquecer às vezes é essencial.

Agora dou um beijo em quem quer que esteja lendo isto agora, mas com uma condição:
que assim que me vejam, me devolvam o beijo! ;]


* Assumo o português por mim seguido: meus pronomes vêm antes. Se precisar de uma desculpa, diz aí que é licença poética que isso parece funcionar sempre.

PS: obrigada, meus cinco dedos, por serem raposas para mim.

3 comments:

Anonymous said...

tô aqui buscando o que dizer. faltaram palavras.

é que se tem alguém que entende dessa bagunça e desse branco, essa pessoa sou eu. ;)

lú.

Anonymous said...

:*

Bee of Jupiter said...

Laninha, o tipo de coisa que a gente lê e deseja ter escrito. Que coisa mais linda, menina!
beijo de volta!
( e vai lá no meu, assim que ler aqui...peço logo é perdão, mas eu tinha que fazer isso)