Monday, July 23, 2007

[porque apertar o botão 'play' é abrir a porta e deixar entrar]

Sabe o que acontece quando alguém relativamente pacata, totalmente uncool, que ama silêncio, que corre de lugares lotados e que é besta pra rir se encontra com alguém como a JANA!?

Bom, além de ter de uma hora para outra uma vida bem mais movimentada, de saber de estórias que só ela saberia [porque são coisas que só poderiam acontecer com ela], e de ter um dicionário ambulante ao seu lado que lhe explica sobre as bandas e filmes que o povo fala e que te passam batido como frase em grego... é ter seu nome mencionado perante os mil vistiantes do blog dela, para responder publicamente a uma pergunta...

Mas tudo bem, porque ela faz gracinhas e consegue o que quer mesmo. :*

Além do mais, eu realmente a-d-o-r-o desafios.
Acho que é meu lado de garota-mimada-única-filha-mulher e dos irmãos que diziam do alto de sua masculinidade: eu duvido que tu consiga fazer isso.
E eu ia lá, me estrepava todinha, mas fazia.

Mas a pergunta que dona Banana me pediu para responder é:

Qual a sua relação com música?

Os primeiros acordes que entraram na minha vida [e graças, permanecem] foram os do meu pai. Meu pai é um cara tudo de bom: pintoso, gente boa, bom marido, bom pai, corajoso, responsável, e tem uma voz linda! Quando eu era pequena, eu, como a única menina da casa, tinha uma relação carrapato com ele. E perto dele eu podia tudo. E fui super-hiper estragada - só não fui mais, porque graças a Deus minha mãe tem os pés no chão. Mas meu pai vivia a cantar pela casa - aliás, faz isso até hoje. E eu me lembro de pedir para ele: pai, canta aquela da 'namoradinha de um amigo meu'. Ou a do ET - denominação que eu hoje, aliás, tomo para mim.

O fato é que mesmo hoje, com alguns gostos musicais já definidos, eu não sei letra nenhuma de música, com exceção das-do-roberto-erasmo-nelsongonçalves-jovemguarda-&-cia que meu pai sempre cantou.

Mas apesar de não ser uma rebelde, na forma exata como os rebeldes são conhecidos pelo menos, eu tenho sim a mania de ir na contra-mão do mundo... Tanto que geralmente descubro músicos uns cinco anos depois de todo mundo já ter descoberto.

O fato é que nos meus dezesseis anos, enquanto todos dançavam a la sei-lá-que-banda-estava-fazendo-sucesso-então eu colocava meu som nas alturas e dançava com Maria Bethania e Clara Nunes.

Um ano depois, aos 17, descobri Elis. E me apaixonei por ela. Ela é a única mulher que me faz quebrar o silêncio do meu chuveiro.
Já a cantei de uma ponta a outra da América e até hoje um ex-namorado que virou um grande amigo não pode falar comigo sem falar que ao ouvi-la pensa em mim.

Mas os anos vão passando e apesar de eternamente fiel a Elis, fui descobrindo que gostava de algumas bandas que o resto do mundo amava. Meu irmão mais velho me apresentou aos Foo Fighters, aos Engenheiros, ao Legião Urbana, e a outros tantos que são queridos pela maioria - ao mesmo tempo que meu irmão mais novo me fazia odiar o forró que ele, safadinho, teimava em colocar às alturas no domingo à tarde [hoje, com ele morando longe de mim, acho que eu nem me importaria de ouvir um forró aqui e acolá - muito mais acolá que aqui, no entanto].

Aos 26, me apaixonei por um cara e eu e ele criávamos nossa própria trilha sonora.
Entre meus poemas e suas melodias, vivemos nosso amor através de músicas.

Sem falar nas músicas do meu então sogro - que é um apaixonado por músicas antigas [e conhecedor profundo delas] e que sempre me apresentava a essas e eu sempre ficava encantada.

Eu tenho uma alma velha, sabe.

Mas hoje, bem, Vanessa da Mata me faz rir com sua Quando um homem tem uma mangueira no quintal, Céu me traz um senso de alternativo à alma, Norah Jones e a perfeita mas chatíssima Diana Krall me dão paz, Zeca Baleiro e Paulinho Moska me enfeitam os ouvidos, Gal canta ainda afinado e agudo em meu som, Nelson Gonçalves de vez em quando vem me falar sobre amélias, Marisa Monte é sempre perfeita pra mim...

E como uma boa esquecida, senil sem ter ainda a idade para tal, me pego constantemente redescobrindo amores musicais.

O fato é que música para mim vem sempre agarrada a um contexto.
Acho que é por isso que eu sempre digo que a vida deveria ser mais como um musical.

O que me chega ao meu bem maior: as trilhas sonoras.
De Julie Andrews, a Audrey Hepburn, dos clássicos da Disney à Pixar, dos infantis aos adultos: eu adoro trilhas sonoras.
Seja na voz da Pocahontas, da Belle, da Victoria [ou Victor], da Eliza Doolittle, etc. - amo a todos.

E confesso que não tenho costume de deixar rádio ou cd tocando no background: música para mim ou é desejo ou é surpresa.

Então, quando quero que Elis, ou Savage Garden ou Lulu ou Nana me embalem os ouvidos - eu coloco um disquinho acolá e me delicio.

E quando ligo o rádio e está tocando uma música da Elis ou da Legião eu olho pro céu sorrindo jurando de pé junto que foi um presente para mim.

E desconhecida de tudo como eu sou, quando vou de rádio ligado para os cantos, me pego as vezes tocada, apaixonada por uma música que não conhecia e fico ansiosa, esperando falarem o nome da música para eu anotar na agendinha que sempre carrego comigo.

Existem os amores eternos, claro.
Que não são paixão passageira: Elis [será que já está claro que a amo?], Bethania, Gal, Gil, Rita, Quarteto em Cy, Tom, Vinicius, Chico, Toquinho...
Outras que sempre me fazem bem: Pizarrelli, Rosemary Clooney, Vanessa da Mata, The Corrs, Zeca Pagodinho...
Outras que são música de refletir: os cantos gregorianos e os instrumentais [únicos que eu escuto enquanto estudo]

Então, qual minha relação com música?

Bem, como disse Joseph Campbell [e é incrível como eu cito esse homem]: são felizes aqueles que são capazes de ouvir a música.

E ter músicas que te levam a cantos que ficaram no passado é poder ter sempre um pedaço desses cantos dentro de ti.

Eu só sei que tem uma música religiosa que sempre me faz chorar: numa mistura de alegria e saudade e ternura: porque quando a escuto ou canto é como se a minha avó estivesse ao meu lado de novo.

Então, música para mim é isso: pedacinhos da nossa vida que enfeitaram com acordes musicais.


Pocahontas - Cores do Vento


Do filme Victor Victoria - Julie Andrews cantando Dame from Seville


Dolores Duran - coisas boas que a tecnologia traz de volta pra gente


Gal e Elis


Minha querida Elis

2 comments:

Jana said...

Me deu, me diverti horrores com esse texto. Nem acredito nessas correntes de blogs, mas me perguntaram de eMe e U - MU, esSe e I - SI, Cê e A - CA. Não pude ficar calada!

Nâo conhecia aquela citação do Joseph Cambell (pasme!), o que me faz querer eler todos livros que tenho dele, mas cade tempo (aliás, com um tempinho respondo teu email).

Mas fiquei extasiada mesmo foi com o Foofighters!

Beijos grande amiga, té mais tarde!

Anonymous said...

Oii Lana.
Mas é claro que não pude ignorar a curiosidade e não clicar no seu nome lá no post da Jana.
Aliás, o tema é um dos mais delicados e mais gostosos de se falar neh?
Eu adorei o seu texto.
Elis é mesmo divina. [tinha que comentar dela. rs]
E me fez parar para pensar: Qual a MINHA relação com a música.
E você disse muito ao dizer que 'apertar o botão 'play' é abrir a porta e deixar entrar!


Beijos. =**