Thursday, September 21, 2006



[Lana, Laninha, Lana Mara, Naninha, Lana Nóbrega]

Nome composto. Alguém tem a graça de tê-lo? Não há ninguém que eu conheça que seja dono dessa alcunha dupla, que não atribua uma parte de sua personalidade a um nome e outra parte de sua personalidade ao outro nome.

A Lana faz isso. A Mara faria aquilo. A Lana Mara [sempre enrascada] faz outra coisa. A Laninha, bem, a Laninha é toda doce. E a Lana tem raiva da Laninha. A Mara, por sua vez, toda amarga, não sabe muito bem o que quer não. E se mostra só raramente.

É lindo quando inventam essa história de diminutivo para o nome próprio - característica usada desde cedo na minha família [são inhas e inhos para tudo que é lado] e que a Laninha, boba, continua a seguir fazendo vida afora, sempre que tem um carinho a mais por alguém - coisa que acontece sempre.

Mas devo dizer que tenho muita raiva quando escolhem usar o tal do diminutivo e - puff - na primeira discórdia, lá vem o nome seco, sem inha ou inho. Tenho muita raiva porque aí, me parece que usam o meu nome como arma, como forma de ferir, como maneira de passar o desgosto que causei: não estou merecendo o inha naquele momento.

Nada a ver isso.

Embora aconteça muito naturalmente.

A mim, bem, já me fiz a promessa de, se algum dia acontecer de botar mais seres humanos neste mundo, de lhes dar nomes que não combinem com inhas ou inhos. Que é para lhes poupar desse caminho.

Mania boba essa minha. A de tentar poupar os outros das coisas. Tomara que quando esse dia chegar [se chegar] eu não seja mais tão besta e ponha nomes de inhos e inhas nos herdeiros mesmo. Não há espaço para poupadores nesse mundo porque eles mesmos se cansam, já que não são jamais poupados.

Sei sim o que quero: só não tenho culpa se o que quero agora não é necessariamente o que quero amanhã.

Mas sabe de quem eu mais gosto? Eu gosto muito da Naninha. Ela morreu já. Foi-se junto com a única pessoa que a conhecia.

Minha avó Pedita.

Era ela o único ser que falava um gostoso Naninha sempre que se referia a mim. E a Naninha, ah, a Naninha era mesmo linda. Um anjo nesta Terra, quase. Me preocuparia se ela ainda existisse. O mundo só lhe machucaria. Ela era pura demais, boa demais, ingênua demais, solícita demais. Tudo o que um mundo bom e justo gostaria de ter em si. Uma criança. Pronto. Era isso a Naninha: uma criança. Saudades dela. Mais saudades ainda da que lhe [re]conhecia. Seria bom ter seu colo ainda.

Mas, como disse, com a Naninha não preciso mais me preocupar. Ela não mais existe. Só lapsos dela. Resquícios de uma alma bela, só.

A Lana, bom, a Lana ainda está crescendo. Aprendendo consigo e com o mundo. Ela tem um grande defeito, confesso, ela tem a necessidade de entender as coisas. E isso lhe dá uma dor de cabeça... Ela ainda tem muito o que aprender. Não sabe muito bem aonde pisa. Não gosta do indefinido. Se estressa e se preocupa demais com tudo e todos. Resumindo: A Lana precisa aprender a maneirar. Deixar as coisas desabarem sem que seja ela a primeira a correr para colocar tudo de volta no local. Ela sabe disso, e morre de medo de conseguir esse feito um dia. Será ela ainda quando não mais se importar tanto?

A Mara, sempre escostada na Lana, não tem muito reconhecimento não. Confesso que a Lana só gosta da Mara junta a ela. Sozinha a Mara é amargura. Com a Lana a Mara é luz. É fortaleza. É peraltice. É uma sonoridade que o ouvido gosta. Impressão digital no mundo das alcunhas.

Esse pacote todo, bem, esse pacote todo é como qualquer outro ser no mundo: significa muito para uns poucos, não tem lá tanta importância para outros, sabe de poucas verdades, tem inúmeras dúvidas sobre um infinito de coisas, já machucou e já foi machucada, não tem medo da sua morte, mas da morte dos outros, não tem medo da sua doença, mas da doença dos outros, gosta muito da vida, embora viva se frustrando com caminhos que as vezes lhe aparecem [ou deixam de aparecer], se sente incrivelmente sozinha às vezes, sabe como é sortuda por ter o que tem, por ter conquistado o que já conquistou, sofre com a dor dos outros, é muito burra às vezes, e incrivelmente geniosa na maioria das horas.

Sabe do que ela precisa?
Ela precisa de um domador que saiba controlar a fera, e de um jeitoso que saiba preservar sua doçura.
Tá. Ela precisa de algo que provavelmente não existe.

Mas isso, isso é só um detalhe.

A Lana Nóbrega, ser autógrafo dos textos que cria, a Lana Nóbrega tem um certo timming. Ela tem muito orgulho quando as palavras lhe avisam que chegou a hora do ponto final. É uma delícia o ponto final: trabalho feito, recado dado, poesia nascida. A Lana Nóbrega quer morar dentro de um livro, quer viver mais em páginas do que na vida, quer brincar de Criador e inventar mundos e fazer nascer gente. A Lana Nóbrega chega a ser besta, e não deixa que lhe tirem seu valor não. Tem orgulho de si e pronto. Embora se faça de forte, a Laninha confessa por ela: nenhum texto vale tanto, quanto um querido seu gostar do texto. Mas a Lana Nóbrega segue na vida dos mestrados, dos livros, das aulas: fuga de quem achou uma alcunha que cabe no mundo da gente grande.

Isso tudo até aqui, isso não é um espelho.
Só se for espelho de carro: que está sempre refletindo coisas que vão passando.






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