Wednesday, October 11, 2006



[fantasia]

Desde que eu me lembro eu amo frases. Aos dezesseis anos passei semanas debruçada sobre minha máquina de escrever batendo - letrinha por letrinha - as várias frases que eu tinha pensado e refletido até ali. Ao fim do projeto, dei um título à coletânea. Não lembro qual era neste momento. Está aí em alguma gaveta, em alguma caixa - qualquer dia desses eu acho de novo.

Acontece que frases me encantam porque elas captam o quanto somos efêmeros, o quanto nossas verdades são passageiras, o quanto nossas realidades são compostas de momentos.

E embora isso tudo possa ter um sentido negativo, embora possa parecer que falo isso como se fosse algo ruim, na realidade penso justamente o contrário.

E apesar de escrever ser, para mim, tão essencial como qualquer função biológica, e embora eu me recline sobre esse fato para poder me lisonjear de alguma sanidade mental [porque despejo sobre as palavras tudo o que me enlouqueceria, se guardado], escrever é também - principalmente poesias - solidificar aquela pessoa que eu era naquele intervalo de tempo: e o que aquela pessoa [que eu era] sentiu sobre aquilo, naquele tempo de que fazia parte.

E essas frases escritas nem sempre registram sorrisos.

Às vezes elas registram dor.
Às vezes um arrependimento.
Às vezes um medo.
Às vezes uma dúvida.

E se é verdade que não somos os mesmos de ontem, e que não seremos os mesmos amanhã, também é verdade que vivemos constantemente revisitando essas pessoas que éramos.

Nunca nos livramos de nós mesmos.

Estejamos no passado ou no presente de nós.

Sempre aquele cidadão [que você era], quando você menos esperar, vai aparecer na cara dura, te fazer olhar um espelho passado, e te mostrar da forma mais cruel do mundo quem você era e o que você tinha.

Isso às vezes vai te fazer levantar os ombros, indiferente.
Às vezes vai te fazer sentir saudades.
Às vezes vai te fazer sorrir por saber que tudo aquilo está lá longe agora.

E essa é a 'frase' mais constante do homem: às vezes.

Somos, todos nós, uma coletânea de "às vezes".

E o interessante de achar por aí frases de outros, é perceber com alívio, que nossas dores, nossos sorrisos, e até nossas reflexões fazem sentido.

Sim, porque somos um bicho incompleto. Sem o outro, não somos ninguém.

Não há por que eu ter um nome, se não houver ninguém que o chame, que o pronuncie. Ou que até o reconheça como nome.
E até para olhar para nós mesmos, às vezes precisamos do outro: como um ator que reaje à reação do outro.

Assim são nossas verdades, nossas lágrimas: é tão confortante quando nos dizem: você tem razão de estar assim. isso dói muito sim.

Mas há momentos - às vezes muitos - em que falta essa leitura do outro: não somos, a maioria de nós, decifrados assim tão facilmente.

E então quando uma frase que nos faz sentido nos encontra, sentimos algum conforto: pronto. é assim que me sinto.
Passamos nossas vidas tentando validar nossos sentimentos.
A literatura inteira está construída sobre essa verdade.
As músicas, então: cada composição é uma tentativa de registrar um momento, um sentimento.
Um de nossos às vezes.

E em meio a toda essa efemeridade, em meio a toda a dúvida, em meio a todo o entendimento que sempre buscamos, existem aqueles que nos falam do que já descobriram:

"...O maior erro do ser humano, é tentar tirar da cabeça
aquilo que não sai do coração..."

[Fernando Pessoa]


~~~~~~

"Certos pensamentos são como orações: há momentos em que, qualquer que seja a
posição do corpo, a alma está sempre de joelhos."

[Victor Hugo]


~~~~~~

"Existir é isso: beber-se a si próprio. Sem sede."
[Sartre]


~~~~~~

"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento..."
[Clarice Lispector]



E às vezes me pergunto se as verdades que achamos no que os outros nos dizem, não são, na realidade, como nossas próprias verdades. E se toda verdade não se subdividiria, por sua vez, em duas categorias: nas que são atemporais, e nas que, no passar dos anos, percebemos que ou não éramos para ter levado assim tão a sério; ou que elas nos serviram magicamente então, mesmo que hoje não mais nos sirvam; ou que devíamos ter tido a coragem de levá-la a sério.

E isso assusta.
Como saber que tipo de verdade é a que estamos seguindo neste momento?

E eu, que sempre tomo a iniciativa para tudo; e eu, que sempre vou atrás de qualquer coisa que eu sinto que deva fazer; desta vez confio em Clarice e me abandono ao tempo: que ele saiba o que fazer comigo.

E eu, que não sei de nada, criei uma nova frase para mim:

Estou aprendendo a levar a vida no samba.

É isso: até que outra verdade me apareça: estou aprendendo a sambar.

Só me resta agora que mais alguém veja sentido nisso também e venha sambar comigo.








5 comments:

Anonymous said...

Linda essa frase do Fernando Pessoa.A pura verdade, é meio dar um passo pra frente e outro pra trás.Não adianta.

Anonymous said...

Acabei de desligar o telefone,não consigo falar contigo.Isso é fato.Vou usar agora o teu blog.O ruim vai ser quando eu começar a falar besteira por aqui.

LANA NOBREGA said...

Balzinho: KKKKKKKKKKKKKKKKKKKK!!!

Foi mal, meu amigo.. acabei de chegar... pq tu não ligou pro cel??? :p

Num fale besteira por aqui não!! Hehehe! PeloAmor!!! :D

Tô amanhã o dia em casa... me liga, tá? ;]

Beijoooo! :*

Luiza Holanda said...

ah, o samba. cê vai ver que ele fica, não adianta. ;)

belo, sempre. mas isso é só ficar me repetindo. :P

amo.
beijo.

izzolda said...

É curioso ver como as frases com que nos identificamos vão mudando e dizendo tanto sobre nós!

Gostei muito de conhecer a sua rede, vou voltar! E muito obrigada pela visita :)

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