Monday, October 30, 2006


[nosso caminho de cada dia]

Uma vez que sabemos de algo, não conseguimos fingir que não sabemos. Saber nos transforma em outra pessoa, e não podemos simplesmente voltar a ser quem éramos quando não sabíamos.

Assim é o saber: é esse companheiro que nasce junto conosco, que é quase nosso irmão siamês, que andará ao nosso lado, de mãos dadas conosco sempre. Às vezes teremos uma raiva incrível dele, às vezes não o aceitaremos, às vezes nos olharão torto por termos aquele conhecimento ali ao nosso lado, às vezes nos sorrirão por conhecermos algo que é reconhecido e admirado, às vezes vão querer nos jogar na fogueira, às vezes aquele saber vai nos trazer a maior alegria que já tivemos [até porque todo amor incondicional só vem através do saber], às vezes ele nos fará sofrer grandes amarguras, às vezes iremos negá-lo: porque não estaremos prontos para ele, às vezes ele nos chegará de mansinho e, um dia não mais belo que os demais, entenderemos que esse saber já está ali faz tempo.

E saber é também uma graça: é entender, é enxergar sentido, é reparar, é reconhecer, é saber decifrar.

A nós, que sempre estamos em processo, que sempre estamos em um trem que não pedimos para entrar e que não cabe a nós decidir quando sair, a nós, pobres limitados humanos, nos resta aprendermos: sermos servos desse saber dualista: que ora nos aprisiona e ora nos liberta, que ora nos faz chorar e ora nos faz sorrir. É como um relacionamento: achamos quem amamos, achamos uma pessoa com quem adoramos dormir e com quem adoramos acordar: sabemos que teremos momentos de prazer, sabemos que teremos momentos de raiva, sabemos que teremos momentos de dor, momentos de sorriso – mas a cada um desses momentos que nos aparecem, conhecemos mais a pessoa que está ao nosso lado e sabemos reagir melhor a esses momentos, e aprendemos a decidir o que vale a pena e o que não vale, o que queremos e o que não queremos, o que podemos e o que não podemos fazer.

E o saber nos acompanhará fielmente: porque ele é nós mesmos. E caminhará conosco para sempre. E a vida de outros nos tocará através dele. E as histórias de outras vidas chegarão a nós por ele: por esse idioma intrínseco a nós, que nos faz aprender a falar, que nos faz aprender a andar, a amar, a desculpar, a acertar, a viver, a ser feliz, a ouvir a nós mesmos e aos outros, a reconhecer, a baixar e a levantar a cabeça, a calar e a dizer, a chorar e a sorrir, a aceitar e a lutar, a crescer a cada dia: porque nunca deixaremos de ser aquele bebezinho que precisa aprender a andar para fazer parte do mundo dos homens grandes.

É como toda coisa incrível da vida: é um arriscar-se. Pode dar certo, pode não dar. Pode nos trazer lágrimas ou pode nos trazer sorrisos. Mas a grande sacada é sair do pode isso ou pode aquilo e perceber que tudo que é bom mesmo nos trará sempre as duas coisas: porque todo conhecer, todo aprender, todo crescer, tem momentos de choros e de gargalhadas. E se não fosse assim, nós nunca entenderíamos, antes mesmo de aprender a falar, que o choro nos traz a mamadeira: ali a vida já se mostra assumidamente para nós: tristezas nos farão crescer e crescer nos trará sorrisos e nada disso é possível sem o saber que caminha lado a lado conosco e que nos faz reconhecer o que vivemos, quem somos, e por quais caminhos nosso trem deve passar: porque isso, isso é sim decisão nossa.

4 comments:

Anonymous said...

Nada a dizer,só há o que sentir.

Anonymous said...

Conhecimento é pressuposto de ação, Lana. Só saber não adianta nada pra algumas coisas...

Virei seu fã... mas pouco tenho para te contatar a não ser por aqui... tem email válido? O meu leitedp@yahoo.no fica a seu dispor.

Beijos.

Anonymous said...

Eu de novo... mandei-te um mail para o teu do Yahoo que vi na tua Casa-Mãe.

Boa noite.

Bee of Jupiter said...

Coisa linda, Laninha. E pensar assim como você é viver bem, sabia?! te admiro demais.
beijo