Thursday, November 30, 2006


[hoje é dia de poesia]



o outro travesseiro

é dentro do silêncio
é dentro dele
que escuto sua voz

é sozinha
que sinto o seu toque
é quando estou só
que você está comigo

é em sonho
que o real existe
é em sonho
que estou acordada

é no não-tempo
(que o relógio não marca)
é nele
que tudo se faz eterno

e te tenho para sempre
ao meu lado.

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paisagem

não falarei de flores
não trarei o lírico
para te falar

não desenharei em vermelho
ou adoçarei tua boca

não lhe darei silêncio
não lhe mostrarei o caminho
não direi sequer
que não me conheces

não te direi sim

não farei nada
do que já fiz

não serei nada
do que já fui

e quando não estiveres olhando
te olharei

porque é destino do caminho
deixar a paisagem passar.

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trocadilho

a palavra
som que sai
tinta que escreve
luz que preenche

o som
onda que vem
faz carícia no ouvido
fala em tom conhecido

a tinta
que mancha de sentido
costura o diálogo
desenha o sorriso

a luz
que pinta o colorido
organiza o tempo
fabrica o tecido

a onda
que abraça e vai
faz carinho e sai
brinca que vai e volta

a mancha
que teima estar solta
mas que organizada
vira coisa estampada

a tinta que pinta
o tempo nas horas

o abraço que abraça
nas horas que a graça
precisa de um sorriso.

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e agora uma que não é minha:

um poema clássico* de E.E. Cummings e que fala por todo amor verdadeiro:


"here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called life;which grows
higher than the soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that's keeping the stars apart

i carry your heart(i carry it in my heart)"

~~
* fragmento. para a poesia inteira vá aqui.


[dois grandes amores]





Porque tenho um pouquinho das duas em mim
e porque sou uma pessoa também formada de saudades.
E relembrar um sorriso é sorrir novamente.

[e então é época de simone]

Último dia do penúltimo mês. As aulas estão em seus finalmentes [duas semanas mais de labuta], o interno de todos os ambientes da cidade estão enfeitados de vermelho e dourado, as noites já estão cheias de luzes, as casas já começam a colocar os planos nas mesas: vamos fazer isso, vamos para tal canto, depois para tal, fulaninho vai levar isso, nós vamos levar aquilo.... e um súbito espírito de humanidade paira no ar.

Amo essa época do ano.

Amo a reunião das famílias.

Amo ver as crianças abrindo seus presentes pipocando de animação.

Esta noite eu sonhei que tinha um filho. Coisa rara. Explico: é que sempre em 'sonhos de ser mãe' [que acontecem vez uma ou duas vezes por ano] a cria é uma menina. Desta vez não. Pela primeira vez foi um menino. Um menino lindo e levado. E nós dois brincávamos de corre corre, de cavalinho... E depois, banhadinho e de pijama, ele dormia ao som das minhas histórias - que eu ia criando à medida que lhe contava.

E, como fim de ano é época de balanço mesmo, devo dizer que o filho do sonho talvez anuncie essa nova Lana que 2006 trouxe. Termino este ano extremamente longo - onde parece que vivi mil vidas - absolutamente diferente de quando o comecei.

Lembro-me que na virada do ano passado, a única coisa que eu tinha a dizer a respeito do 2006 que se iniciava era que tudo nele era um ponto de interrogação. Mal sabia eu os caminhos que ele me traria. Foi um ano complexo, este. Mas, ainda assim, um ano que representa um marco muito forte em minha vida. De sonhos que se esvaíram, de sonhos que renasceram, de caminhos que me apareceram sem que eu lhes esperasse.

Sinto-me mais forte. Sonhadores às vezes precisam ser trazidos para a terra firme. E esse ano fez isso comigo. Não, não deixo de sonhar. De ser sonhadora. Graças, graças, essa é uma característica intrínseca à mim. Essa mulher misturada de menina que o espelho me mostra sempre.

E por mais que tenha dado na telha dos intelectuais esculhambar o incansável 'então é natal' de Simone, eu, que tenho mesmo a mania de ir na contramão, digo logo: eu gosto. Eu gosto de coisas que representam uma época. Eu gosto das bizarrices bregas e de gosto duvidável. De soltar uma gargalhada gostosa porque é 5.767.649 que escuto a música da simone no mesmo dia.

Eu gosto de saber que encontraremos no dia 24 todas a pessoas que durante o ano não vemos. Eu gosto que até as pessoas que não particularmente gostamos, encontram a sintonia que essa noite traz em si. Eu gosto de procissões e tradições. Dos sorrisos, das brincadeiras, das fotos, das comidas.

E nessa noite eu sempre rezo para aqueles que estão sozinhos. Ninguém deveria estar sozinho na noite de Natal. Devia ser proibido. Deveria ter uma campanha internacional para que se acolhesse em cada família alguém que estivesse sozinho.

O fato é que 2006 está acabando - e já era hora disso mesmo. Acho que ele já me deu o que tinha de dar: já me mostrou os sorrisos e lágrimas que tinha para mim e já também mostrou o que valorizava ou não.

Eu termino este ano com o pulmão cheio. Com algumas palavras guardadas, é verdade. Mas subitamente tomada de uma energia e orgulho também.

E quando eu cruzar a linha de largada de 2007, eu a cruzarei com as pernas mais fortes, mais preparada para os novos pontos de interrogação que virão dentro dele.

e para descontrair...

porque eu estou cada vez mais tentando virar uma sambista seguidora fiel do ser 'blasê', vai um desenho de quem não sabe desenhar: porque esta manhã eu pude ir para a aula e a rinite alérgica, a virose e o dedo do mouse estão a mil também sambando comigo.





Saturday, November 25, 2006


[cais]

começo a costurar agora
a linha é forte e o tecido belo.
extremamente belo.


~~
pergunta:

quantas personagens de mim mesma eu sou?

queria um dia mais longo.
preciso de dias mais longos.
o tempo me escapa rápido demais.





Monday, November 20, 2006


[sentido]

vi esta frase e não resisti de colocá-la aqui
porque quando algo lhe chega como verdade, tem mais é que ser abraçado mesmo

“A ave sai do ovo. O ovo é o mundo. Quem quiser nascer tem que destruir um mundo.”

Hermann Hesse

Wednesday, November 15, 2006


[aprendizagem]

Às vezes eu acho que seriam necessárias mil vidas para eu amar o tanto que quero.

E como eu amo.

E como é bom amar.

Saturday, November 11, 2006


[el nuevo idioma]

que quero aprender

e eis os belíssimos e perfeitos culpados





Há determinadas coisas na vida, que não devemos passar sem fazer.

E, venhamos e convenhamos, novas paixões são sempre bem vindas! :]

[síndrome do espelho e das pessoas conhecidas]

Conta a ciência que existe tal síndrome: uma que você se olharia no espelho e não se reconheceria. Veria pessoas que lhe eram conhecidas, e elas não mais lhe pareceriam conhecidas.

Pergunto-me se todos nós, na realidade, não sofremos de tal síndrome.

Pois há muitas vezes em que nos olhamos de fato no espelho e já não vemos quem nós éramos.

E há também inúmeros momentos em que olhamos pessoas que um dia nos foram queridas e nos permitimos passar por elas como por meros estranhos.

São muitos os caminhos que tomamos para que não soframos mais.

São muitas as vezes em que percebemos que crescemos e nos tornamos outro alguém: não necessariamente melhores ou piores, mas diferentes.

Eu não sei. Passo a vida a perguntar tantas coisas... Essas são mais outras perguntas que se juntam às tantas.

E a verdade é que aprendo a cada dia. Sobre meus erros. Sobre meus acertos.

Sobre as vezes em que eu gostaria de ter agido diferente.

Sobre os momentos em que eu gostaria que tivessem agido diferente em relação a mim.

Carrego a bandeira de que tudo que nos acontece, acontece por uma razão. E acredito sim piamente nisso.

Sei com toda a certeza que possa haver em mim, que tudo o que já se deu em minha vida mudou algo em mim. Nada me aconteceu simplesmente por acontecer.

Da menor alegria à maior dor: tudo me transformou um pouquinho: me transforma ainda.

E pode ser que seja simplesmente uma forma de amar a mim mesma, de ser condescendente comigo mesma, mas entre acertos e entre erros, tomo-os para o melhor. Faço-os minha massa de modelar. O talhe que me molda. Que me fala como ser daqui para frente.

Aos outros, belos outros tão falhos como eu, eu digo:

Façamos de conta que estamos todos nós a morrer.
E que é tempo que desculpemos nossas falhas.

E, a cada um de nós que vive, sendo a vida um estado apenas, sabemos que estamos sim todos a morrer e que não há por que nos ocuparmos com amarguras.

A ti, vida, um brinde.