Saturday, December 30, 2006

[o mais belo]

Escrever para mim é viajar por dentro. É entrar na montanha russa dos vasos que percorrem meu corpo. É tirar a carapaça grossa, é fazer-se frágil e tímida e ser a mais pequena das criaturas.

Escrever para mim, é ser quem não vêem que eu sou, é virar personagem de mim mesma, é tentar amontoar, amassar, encaixar tudo o que não pode ser amontoado, amassado, encaixado. E essas palavras sempre falham em dizer tudo o que precisa ser dito.

São um recorte da realidade apenas. Uma edição. Dentre tantas possíveis.

E eu, que estou sempre fazendo turismo em mim, aprendo e desaprendo com essas palavras.

E têm vezes que elas querem me agarrar pelo braço e sair de joelhos pedindo perdão a todos os que queria ter perto; têm vezes que elas se vestem de raiva, e querem usar todos os palavrões que só aos gritos poderiam expelir um pouco da mágoa e frustração e dor; têm vezes que elas, fracas, são tomadas por uma auto-piedade, por um não-pertencer, por se achar eterna estranha nesta terra azul.

Têm dias que elas acreditam no amor. Acreditam que é possível que duas pessoas se encontrem e passem o resto de suas vidas se re-conquistando, vencendo os defeitos e os mal-entendidos e as fraquezas de cada um. Têm dias que elas têm a certeza de que o amor não é para aqueles que gostam de escrever sobre ele. Que quem o observa, não o vive. E quem o vive não precisa se deter a observá-lo.

Essas palavras que criam teorias que ninguém escuta. Que física alguma se interessaria. Essas palavras que se sentem a mais só das criaturas. Que vão dormir agarradas ao travesseiro e olham para as estrelas sonhando que talvez um dia possa existir alguma vida que lhes dêem um senso de completude. Essas palavras tolas. Que acreditam tão facilmente em tudo. Onde qualquer sorriso é permissão de entrada.

Essas palavras que já sabem quais serão as últimas palavras que serão escolhidas: sempre acreditei na vida.

Porque as palavras e a vida estão sempre em um ringue, com luvas vermelhas nas mãos e nem sempre têm protetores nos lábios e na cabeça, e nem sempre os golpes são justos ou corretos ou éticos. Mas quando chega a hora de contar até dez, entre a vida e nossas palavras, são nossas palavras que devem ganhar e se levantar primeiro. E não tenham dúvida: a vida esperará que nos levantemos e só não será por nós se nós mesmos não o formos.

E disso as palavras sabem, e isso as palavras cantam, e por isso elas têm em si o mais belo nome: amanhã.

E o amanhã pode ser o próximo minuto, pode ser o próximo ano, pode ser o futuro, pode ser o que acabou de chegar: o amanhã é a certeza de que o hoje vale e de que muitos sorrisos ainda enfeitarão nossos lábios. O amanhã é a essência do ser homem: é acreditar que as pequenas coisas fazem essa jornada valer a pena. O amanhã é a caixinha aonde guardamos os sonhos e planos que só nele cabem.



~~~~~~~~~~~~~
que o amanhã que agora chamamos de 2007 venha enfeitado de muitos sorrisos e surpresas boas.

Friday, December 22, 2006


[Para as Jornalistas de Hoje]

Um sorriso meu de orelha a orelha pelo canudinho de vocês!!! :]








Monday, December 18, 2006


[jangada]

Olha, ai daquele que não puder [um dia] dizer que é gente grande

[mesmo que num futuro ainda longe]

porque a regra é simples: quem não pode falar, tem que apenas escutar.

E, convenhamos, nossa voz precisa sair. Precisa sair.

Sunday, December 17, 2006


[a vejo em um samba]

que deixa alegre qualquer tristeza ;]


O que será de nós

Amanheceu
E agora
O que será de nós
No novo dia

Já dois estranhos
Sem um por quê
Já dois passados
Sem um querer

Amanheceu
E agora
O que será de nós
No novo dia

Já não se fazia mais
Essa quantia
Essa dor tardia
De quem não se quer mais

Amanheceu
E agora
O que será de nós
No novo dia

As mãos não se dão mais
Os sorrisos não querem aparecer
E até a raiva já não quer acontecer
É só o cansaço de dois cansados

Amanheceu
E agora
O que será de nós
No novo dia

O sol já decidiu entrar
Mas não veio iluminar
Os olhos molhados
Cansados de tentar

Amanheceu
E agora
O que será de nós
No novo dia

Feita esta manhã
Se foi a noite que escondia
Dentro de si
O fim
O fim
O fim.


17/12/2006




[porque ela era uma gigante]

porque tudo o que nos parece mágico, a gente tende a enfeitar.

[e eis a maior utilidade das palavras]

e porque no fim, é para essas coisinhas que nos matamos de trabalhar.

Wednesday, December 13, 2006


[corta!]

um doído no peito

e a vontade de um colo.







Friday, December 01, 2006





we are all one
or should be

Thursday, November 30, 2006


[hoje é dia de poesia]



o outro travesseiro

é dentro do silêncio
é dentro dele
que escuto sua voz

é sozinha
que sinto o seu toque
é quando estou só
que você está comigo

é em sonho
que o real existe
é em sonho
que estou acordada

é no não-tempo
(que o relógio não marca)
é nele
que tudo se faz eterno

e te tenho para sempre
ao meu lado.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~

paisagem

não falarei de flores
não trarei o lírico
para te falar

não desenharei em vermelho
ou adoçarei tua boca

não lhe darei silêncio
não lhe mostrarei o caminho
não direi sequer
que não me conheces

não te direi sim

não farei nada
do que já fiz

não serei nada
do que já fui

e quando não estiveres olhando
te olharei

porque é destino do caminho
deixar a paisagem passar.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~

trocadilho

a palavra
som que sai
tinta que escreve
luz que preenche

o som
onda que vem
faz carícia no ouvido
fala em tom conhecido

a tinta
que mancha de sentido
costura o diálogo
desenha o sorriso

a luz
que pinta o colorido
organiza o tempo
fabrica o tecido

a onda
que abraça e vai
faz carinho e sai
brinca que vai e volta

a mancha
que teima estar solta
mas que organizada
vira coisa estampada

a tinta que pinta
o tempo nas horas

o abraço que abraça
nas horas que a graça
precisa de um sorriso.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~



e agora uma que não é minha:

um poema clássico* de E.E. Cummings e que fala por todo amor verdadeiro:


"here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called life;which grows
higher than the soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that's keeping the stars apart

i carry your heart(i carry it in my heart)"

~~
* fragmento. para a poesia inteira vá aqui.


[dois grandes amores]





Porque tenho um pouquinho das duas em mim
e porque sou uma pessoa também formada de saudades.
E relembrar um sorriso é sorrir novamente.

[e então é época de simone]

Último dia do penúltimo mês. As aulas estão em seus finalmentes [duas semanas mais de labuta], o interno de todos os ambientes da cidade estão enfeitados de vermelho e dourado, as noites já estão cheias de luzes, as casas já começam a colocar os planos nas mesas: vamos fazer isso, vamos para tal canto, depois para tal, fulaninho vai levar isso, nós vamos levar aquilo.... e um súbito espírito de humanidade paira no ar.

Amo essa época do ano.

Amo a reunião das famílias.

Amo ver as crianças abrindo seus presentes pipocando de animação.

Esta noite eu sonhei que tinha um filho. Coisa rara. Explico: é que sempre em 'sonhos de ser mãe' [que acontecem vez uma ou duas vezes por ano] a cria é uma menina. Desta vez não. Pela primeira vez foi um menino. Um menino lindo e levado. E nós dois brincávamos de corre corre, de cavalinho... E depois, banhadinho e de pijama, ele dormia ao som das minhas histórias - que eu ia criando à medida que lhe contava.

E, como fim de ano é época de balanço mesmo, devo dizer que o filho do sonho talvez anuncie essa nova Lana que 2006 trouxe. Termino este ano extremamente longo - onde parece que vivi mil vidas - absolutamente diferente de quando o comecei.

Lembro-me que na virada do ano passado, a única coisa que eu tinha a dizer a respeito do 2006 que se iniciava era que tudo nele era um ponto de interrogação. Mal sabia eu os caminhos que ele me traria. Foi um ano complexo, este. Mas, ainda assim, um ano que representa um marco muito forte em minha vida. De sonhos que se esvaíram, de sonhos que renasceram, de caminhos que me apareceram sem que eu lhes esperasse.

Sinto-me mais forte. Sonhadores às vezes precisam ser trazidos para a terra firme. E esse ano fez isso comigo. Não, não deixo de sonhar. De ser sonhadora. Graças, graças, essa é uma característica intrínseca à mim. Essa mulher misturada de menina que o espelho me mostra sempre.

E por mais que tenha dado na telha dos intelectuais esculhambar o incansável 'então é natal' de Simone, eu, que tenho mesmo a mania de ir na contramão, digo logo: eu gosto. Eu gosto de coisas que representam uma época. Eu gosto das bizarrices bregas e de gosto duvidável. De soltar uma gargalhada gostosa porque é 5.767.649 que escuto a música da simone no mesmo dia.

Eu gosto de saber que encontraremos no dia 24 todas a pessoas que durante o ano não vemos. Eu gosto que até as pessoas que não particularmente gostamos, encontram a sintonia que essa noite traz em si. Eu gosto de procissões e tradições. Dos sorrisos, das brincadeiras, das fotos, das comidas.

E nessa noite eu sempre rezo para aqueles que estão sozinhos. Ninguém deveria estar sozinho na noite de Natal. Devia ser proibido. Deveria ter uma campanha internacional para que se acolhesse em cada família alguém que estivesse sozinho.

O fato é que 2006 está acabando - e já era hora disso mesmo. Acho que ele já me deu o que tinha de dar: já me mostrou os sorrisos e lágrimas que tinha para mim e já também mostrou o que valorizava ou não.

Eu termino este ano com o pulmão cheio. Com algumas palavras guardadas, é verdade. Mas subitamente tomada de uma energia e orgulho também.

E quando eu cruzar a linha de largada de 2007, eu a cruzarei com as pernas mais fortes, mais preparada para os novos pontos de interrogação que virão dentro dele.

e para descontrair...

porque eu estou cada vez mais tentando virar uma sambista seguidora fiel do ser 'blasê', vai um desenho de quem não sabe desenhar: porque esta manhã eu pude ir para a aula e a rinite alérgica, a virose e o dedo do mouse estão a mil também sambando comigo.





Saturday, November 25, 2006


[cais]

começo a costurar agora
a linha é forte e o tecido belo.
extremamente belo.


~~
pergunta:

quantas personagens de mim mesma eu sou?

queria um dia mais longo.
preciso de dias mais longos.
o tempo me escapa rápido demais.





Monday, November 20, 2006


[sentido]

vi esta frase e não resisti de colocá-la aqui
porque quando algo lhe chega como verdade, tem mais é que ser abraçado mesmo

“A ave sai do ovo. O ovo é o mundo. Quem quiser nascer tem que destruir um mundo.”

Hermann Hesse

Wednesday, November 15, 2006


[aprendizagem]

Às vezes eu acho que seriam necessárias mil vidas para eu amar o tanto que quero.

E como eu amo.

E como é bom amar.

Saturday, November 11, 2006


[el nuevo idioma]

que quero aprender

e eis os belíssimos e perfeitos culpados





Há determinadas coisas na vida, que não devemos passar sem fazer.

E, venhamos e convenhamos, novas paixões são sempre bem vindas! :]

[síndrome do espelho e das pessoas conhecidas]

Conta a ciência que existe tal síndrome: uma que você se olharia no espelho e não se reconheceria. Veria pessoas que lhe eram conhecidas, e elas não mais lhe pareceriam conhecidas.

Pergunto-me se todos nós, na realidade, não sofremos de tal síndrome.

Pois há muitas vezes em que nos olhamos de fato no espelho e já não vemos quem nós éramos.

E há também inúmeros momentos em que olhamos pessoas que um dia nos foram queridas e nos permitimos passar por elas como por meros estranhos.

São muitos os caminhos que tomamos para que não soframos mais.

São muitas as vezes em que percebemos que crescemos e nos tornamos outro alguém: não necessariamente melhores ou piores, mas diferentes.

Eu não sei. Passo a vida a perguntar tantas coisas... Essas são mais outras perguntas que se juntam às tantas.

E a verdade é que aprendo a cada dia. Sobre meus erros. Sobre meus acertos.

Sobre as vezes em que eu gostaria de ter agido diferente.

Sobre os momentos em que eu gostaria que tivessem agido diferente em relação a mim.

Carrego a bandeira de que tudo que nos acontece, acontece por uma razão. E acredito sim piamente nisso.

Sei com toda a certeza que possa haver em mim, que tudo o que já se deu em minha vida mudou algo em mim. Nada me aconteceu simplesmente por acontecer.

Da menor alegria à maior dor: tudo me transformou um pouquinho: me transforma ainda.

E pode ser que seja simplesmente uma forma de amar a mim mesma, de ser condescendente comigo mesma, mas entre acertos e entre erros, tomo-os para o melhor. Faço-os minha massa de modelar. O talhe que me molda. Que me fala como ser daqui para frente.

Aos outros, belos outros tão falhos como eu, eu digo:

Façamos de conta que estamos todos nós a morrer.
E que é tempo que desculpemos nossas falhas.

E, a cada um de nós que vive, sendo a vida um estado apenas, sabemos que estamos sim todos a morrer e que não há por que nos ocuparmos com amarguras.

A ti, vida, um brinde.



Monday, October 30, 2006


[nosso caminho de cada dia]

Uma vez que sabemos de algo, não conseguimos fingir que não sabemos. Saber nos transforma em outra pessoa, e não podemos simplesmente voltar a ser quem éramos quando não sabíamos.

Assim é o saber: é esse companheiro que nasce junto conosco, que é quase nosso irmão siamês, que andará ao nosso lado, de mãos dadas conosco sempre. Às vezes teremos uma raiva incrível dele, às vezes não o aceitaremos, às vezes nos olharão torto por termos aquele conhecimento ali ao nosso lado, às vezes nos sorrirão por conhecermos algo que é reconhecido e admirado, às vezes vão querer nos jogar na fogueira, às vezes aquele saber vai nos trazer a maior alegria que já tivemos [até porque todo amor incondicional só vem através do saber], às vezes ele nos fará sofrer grandes amarguras, às vezes iremos negá-lo: porque não estaremos prontos para ele, às vezes ele nos chegará de mansinho e, um dia não mais belo que os demais, entenderemos que esse saber já está ali faz tempo.

E saber é também uma graça: é entender, é enxergar sentido, é reparar, é reconhecer, é saber decifrar.

A nós, que sempre estamos em processo, que sempre estamos em um trem que não pedimos para entrar e que não cabe a nós decidir quando sair, a nós, pobres limitados humanos, nos resta aprendermos: sermos servos desse saber dualista: que ora nos aprisiona e ora nos liberta, que ora nos faz chorar e ora nos faz sorrir. É como um relacionamento: achamos quem amamos, achamos uma pessoa com quem adoramos dormir e com quem adoramos acordar: sabemos que teremos momentos de prazer, sabemos que teremos momentos de raiva, sabemos que teremos momentos de dor, momentos de sorriso – mas a cada um desses momentos que nos aparecem, conhecemos mais a pessoa que está ao nosso lado e sabemos reagir melhor a esses momentos, e aprendemos a decidir o que vale a pena e o que não vale, o que queremos e o que não queremos, o que podemos e o que não podemos fazer.

E o saber nos acompanhará fielmente: porque ele é nós mesmos. E caminhará conosco para sempre. E a vida de outros nos tocará através dele. E as histórias de outras vidas chegarão a nós por ele: por esse idioma intrínseco a nós, que nos faz aprender a falar, que nos faz aprender a andar, a amar, a desculpar, a acertar, a viver, a ser feliz, a ouvir a nós mesmos e aos outros, a reconhecer, a baixar e a levantar a cabeça, a calar e a dizer, a chorar e a sorrir, a aceitar e a lutar, a crescer a cada dia: porque nunca deixaremos de ser aquele bebezinho que precisa aprender a andar para fazer parte do mundo dos homens grandes.

É como toda coisa incrível da vida: é um arriscar-se. Pode dar certo, pode não dar. Pode nos trazer lágrimas ou pode nos trazer sorrisos. Mas a grande sacada é sair do pode isso ou pode aquilo e perceber que tudo que é bom mesmo nos trará sempre as duas coisas: porque todo conhecer, todo aprender, todo crescer, tem momentos de choros e de gargalhadas. E se não fosse assim, nós nunca entenderíamos, antes mesmo de aprender a falar, que o choro nos traz a mamadeira: ali a vida já se mostra assumidamente para nós: tristezas nos farão crescer e crescer nos trará sorrisos e nada disso é possível sem o saber que caminha lado a lado conosco e que nos faz reconhecer o que vivemos, quem somos, e por quais caminhos nosso trem deve passar: porque isso, isso é sim decisão nossa.

Tuesday, October 24, 2006


[para o vento]

É sempre um presente quando nos permitem fazer o que sentimos que devemos.

Monday, October 23, 2006


[entendimentos]

É engraçado como um dia não se passa sem que aprendamos algo de novo ---- e com isso quero dizer duas coisas: o de novo [new] que aprendemos, e o que aprendemos de novo [again]. Porque a vida é isso, e aprender sobre si é isso: um constante visitar e revisitar. Um constante manter e mudar.

Confesso que há muito sobre o mundo que não entendo. E há muito sobre o mundo que me machuca. E existem certas coisas que me chegam aos ouvidos que preferiria não saber.

Gosto muito do mundo cor de rosa. De imaginar um mundo bonito, de ver o bom nas pessoas, de achar que não, que fulaninho não seria capaz disso, que é tudo um mal-entendido, uma história distorcida...

Mas a verdade é que às vezes a vida te dá um solavanco e te mostra um lado que não é bonito. Que não encanta. Que suja e causa desgosto.

E sei que não poderia ser diferente: somos todos falhos, todos metemos os pés pelas mãos muitas vezes, todos nos arrependemos de coisas que ficaram para trás e todos temos algo que se fôssemos fazer hoje novamente, faríamos diferente.

Sei que sou boba por falar isso, logo eu que visto uma carapaça que tenta ser tão forte, mas às vezes não acho que estou preparada para o mundo.

Às vezes dá vontade de ficar na zona de conforto mesmo. Ficar estagnada em um cantinho seguro, aonde o ruim da vida não pode me alcançar, aonde sou filha querida, aonde cumpro minhas funçõezinhas cotidianas, aonde a cada pequena vitória esperada, acho elogios para me congratular.

Mas há essa outra parte em mim, essa parte que quer o novo, que quer sempre inúmeros desafios, que sabe que a vida vai jogar cruel mesmo, e que ai de quem não for forte. Esse lado que sonha o impossível, que quer mais do que o que consegue dizer, que se empolga com pouco e que olha para longe, que sorri sorrisos fáceis simplesmente porque cada minuto conta.

E confesso que queria entender mais sobre muitas coisas. Odeio quando não entendo algo. Me causa angústia. Desconforto. Incômodo.

Gosto de saber o por quê das coisas. Gosto de passar coisas a limpo: um caderno organizado. É mais fácil crescer quando o diálogo acontece. É mais fácil entender. É mais fácil deixar para trás o que é preciso deixar e é mais fácil seguir adiante.

Entendo que falo sobre muitas coisas aqui. Generalizo.

Mas é que a vida está brincando o jogo da mistura comigo: este ano tem sido um grande desafio. De perdas e ganhos grandes. De pessoas que perdi. De pessoas que ganhei.

E os dados continuam sendo jogados no tabuleiro. Este grande tabuleiro de entendimentos que sempre busco alcançar e que às vezes não dependem só de mim.

O que sei é que as pecinhas continuam a se mover a cada jogar dos dados: e não sei muito bem qual o prêmio* que me espera no último quadradinho do tabuleiro, mas é um caminho que, a cada quadradinho percorrido, a cada vez que os dados me dão alegria e tristezas, sei que deixo para trás não quadradinhos vazios, mas uma história que é escrita continuamente e que me ensina a cada dia o que é importante ou não.


~~~~~~~
vai ver o prêmio é justamente chegar ao final.
e poder olhar para trás e dizer que o caminho valeu a pena.


Friday, October 20, 2006


[whisper]


I want much more than this provincial life
I want adventure in the great wide somewhere
I want it more than I can tell
And for once it might be grand
To have someone understand
I want so much more than they've got planned





Beauty and the Beast - Belle







Monday, October 16, 2006



[filosofia]

Diz uma frase de Sartre que existir é beber-se a si próprio sem sede. E é engraçado como a vida passa nossa existência inteira esperando que nossa ficha caia em relação a isso. Cá passamos nós, cada um, nove meses em um mundo submerso, sendo formados, camadas e camadas de células sendo criadas para que nos transformemos, ao final, numa vasilhazinha que chamamos de ser humano. Daí, depois desses nove meses absorvendo tudo sem ter a escolha de sair dali se estivermos incomodados, quando pensamos que estávamos seguros e bem acomodados, vem aquele empurrão e lá vamos nós rumo ao desconhecido. E, apesar de aprendermos depois que tudo o que vivemos durante aquele período submerso vai nos acompanhar pelo resto da vida, não lembramos de nada do que experimentamos durante o casulo não: só sabemos que viramos borboletas.

Nos anos que se seguem, coitados de nós, tudo é necessário ser aprendido. Passamos tempos e tempos deitados em nossos berços olhando para nossos dedos, para nossos pés, para qualquer coisinha colorida que colocam na nossa frente. Um espelho? Nossa, horas vão embora com a gente inebriado com aquela imagem que se mexe junto com a gente. Aí, percebemos que o povo fala. Que tudo tem um nome. Que o povo anda. Que andar leva a gente para outro lugar. E lá vamos nós, embarcar nessa aventura de fazer o que outro faz. Naquela velha história de sempre: se ele(a) consegue, eu também consigo. Aí, ótimo, alguns anos se passam: já sabemos um monte de coisas, pensamos.

Tsc tsc tsc. Não basta aprender a falar não. Tem que aprender a escrever. Tem que ir pensando no que vai ser quando crescer. E não vale a resposta: vou ser grande, ué!Porque, depois aprendemos, ninguém nunca é grande, ninguém nunca está totalmente pronto, completamente formado. Aí começamos com as especulações, geralmente junto com as bonecas, com os carrinhos e o pega-pega: vou ser aeromoça, veterinária, médica, piloto de avião, piloto de fórmula um, astronauta, cientista, vou ser igual ao meu pai!

E o tempo passa e percebemos a grande função dos sonhos: fazer com que alcancemos coisas que não alcançaríamos se não tivéssemos sonhado. E percebemos que a vida brinca de amarelinha conosco o tempo inteiro: às vezes estamos no céu, às vezes naquela outra extremidade. E aprendemos, com o passar do tempo, o que nos faz sorrir, o que nos faz chorar, o que nos deixa triste, o que nos deixa com raiva, o que nos cansa... Aprendemos a abrir mão de uns sonhos, para poder ter outros. Aprendemos a aprender com nossos erros.

Quando temos sorte, temos a iluminação de tirar uma conclusão essencial sobre a vida: ela é um conjunto de experiências. E nós estamos aqui para experimentá-la mesmo. Para aprender sempre. Para descobrir caminhos. Para saber voltar atrás. Para tirar conclusões e saber que, mesmo essas conclusões, podem ser mutáveis. Estamos aqui para entender que sempre podemos nos descobrir certos, e sempre podemos nos descobrir errados. Estamos aqui para tentar entender os vários por quês que nos aparecem. Estamos aqui para saber a hora dedesencanar, de deixar ir, de parar de se preocupar. Aprendemos então que nem tudo depende de nós. Que somos pequenos. E que, às vezes, temos a oportunidade de sermos grandes, de tocarmos outras vidas, de darmos as mãos.

Percebemos que passamos a vida toda nos educando. Construindo e desconstruindo o que sabemos. E nossas experiências são tudo. O ficar parado e o agir, o falar e o calar, o andar e o sentar, o entender e o não-entender, o chorar e o sorrir, o dar a mão e o não-dar, o desculpar e o não-desculpar, o tentar e o não-tentar. Não se vive sem ter experiências. Experiências são como escolhas: o próprio fato de não fazer uma escolha, já é uma escolha.

E nossas experiências nos fazem aprender o que é apropriado e o que não é, quando devemos seguir as regras do mundo social e quando não devemos. Nos fazem ser, a cada dia, um pouco mais sábios. Mas, mais que tudo, a grande função desse nosso viver constante é, a meu ver, aprendermos o tipo de fidelidade mais importante e imprescindível que existe: a sermos fiéis a nós mesmos.

Friday, October 13, 2006

Wednesday, October 11, 2006



[fantasia]

Desde que eu me lembro eu amo frases. Aos dezesseis anos passei semanas debruçada sobre minha máquina de escrever batendo - letrinha por letrinha - as várias frases que eu tinha pensado e refletido até ali. Ao fim do projeto, dei um título à coletânea. Não lembro qual era neste momento. Está aí em alguma gaveta, em alguma caixa - qualquer dia desses eu acho de novo.

Acontece que frases me encantam porque elas captam o quanto somos efêmeros, o quanto nossas verdades são passageiras, o quanto nossas realidades são compostas de momentos.

E embora isso tudo possa ter um sentido negativo, embora possa parecer que falo isso como se fosse algo ruim, na realidade penso justamente o contrário.

E apesar de escrever ser, para mim, tão essencial como qualquer função biológica, e embora eu me recline sobre esse fato para poder me lisonjear de alguma sanidade mental [porque despejo sobre as palavras tudo o que me enlouqueceria, se guardado], escrever é também - principalmente poesias - solidificar aquela pessoa que eu era naquele intervalo de tempo: e o que aquela pessoa [que eu era] sentiu sobre aquilo, naquele tempo de que fazia parte.

E essas frases escritas nem sempre registram sorrisos.

Às vezes elas registram dor.
Às vezes um arrependimento.
Às vezes um medo.
Às vezes uma dúvida.

E se é verdade que não somos os mesmos de ontem, e que não seremos os mesmos amanhã, também é verdade que vivemos constantemente revisitando essas pessoas que éramos.

Nunca nos livramos de nós mesmos.

Estejamos no passado ou no presente de nós.

Sempre aquele cidadão [que você era], quando você menos esperar, vai aparecer na cara dura, te fazer olhar um espelho passado, e te mostrar da forma mais cruel do mundo quem você era e o que você tinha.

Isso às vezes vai te fazer levantar os ombros, indiferente.
Às vezes vai te fazer sentir saudades.
Às vezes vai te fazer sorrir por saber que tudo aquilo está lá longe agora.

E essa é a 'frase' mais constante do homem: às vezes.

Somos, todos nós, uma coletânea de "às vezes".

E o interessante de achar por aí frases de outros, é perceber com alívio, que nossas dores, nossos sorrisos, e até nossas reflexões fazem sentido.

Sim, porque somos um bicho incompleto. Sem o outro, não somos ninguém.

Não há por que eu ter um nome, se não houver ninguém que o chame, que o pronuncie. Ou que até o reconheça como nome.
E até para olhar para nós mesmos, às vezes precisamos do outro: como um ator que reaje à reação do outro.

Assim são nossas verdades, nossas lágrimas: é tão confortante quando nos dizem: você tem razão de estar assim. isso dói muito sim.

Mas há momentos - às vezes muitos - em que falta essa leitura do outro: não somos, a maioria de nós, decifrados assim tão facilmente.

E então quando uma frase que nos faz sentido nos encontra, sentimos algum conforto: pronto. é assim que me sinto.
Passamos nossas vidas tentando validar nossos sentimentos.
A literatura inteira está construída sobre essa verdade.
As músicas, então: cada composição é uma tentativa de registrar um momento, um sentimento.
Um de nossos às vezes.

E em meio a toda essa efemeridade, em meio a toda a dúvida, em meio a todo o entendimento que sempre buscamos, existem aqueles que nos falam do que já descobriram:

"...O maior erro do ser humano, é tentar tirar da cabeça
aquilo que não sai do coração..."

[Fernando Pessoa]


~~~~~~

"Certos pensamentos são como orações: há momentos em que, qualquer que seja a
posição do corpo, a alma está sempre de joelhos."

[Victor Hugo]


~~~~~~

"Existir é isso: beber-se a si próprio. Sem sede."
[Sartre]


~~~~~~

"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento..."
[Clarice Lispector]



E às vezes me pergunto se as verdades que achamos no que os outros nos dizem, não são, na realidade, como nossas próprias verdades. E se toda verdade não se subdividiria, por sua vez, em duas categorias: nas que são atemporais, e nas que, no passar dos anos, percebemos que ou não éramos para ter levado assim tão a sério; ou que elas nos serviram magicamente então, mesmo que hoje não mais nos sirvam; ou que devíamos ter tido a coragem de levá-la a sério.

E isso assusta.
Como saber que tipo de verdade é a que estamos seguindo neste momento?

E eu, que sempre tomo a iniciativa para tudo; e eu, que sempre vou atrás de qualquer coisa que eu sinto que deva fazer; desta vez confio em Clarice e me abandono ao tempo: que ele saiba o que fazer comigo.

E eu, que não sei de nada, criei uma nova frase para mim:

Estou aprendendo a levar a vida no samba.

É isso: até que outra verdade me apareça: estou aprendendo a sambar.

Só me resta agora que mais alguém veja sentido nisso também e venha sambar comigo.








Tuesday, October 10, 2006

[uma música que me faz]


É complicado estipular uma definição quando se trata de seres humanos porque somos feitos de momentos

Mas há sempre uma essência estável dentro de cada um de nós

É essa essência que constitui nossos valores e nosso ser
Nossas fraquezas e fortalezas

A questão é que se eu fosse especular sobre minha essência*, ou se me pedissem para fazê-lo, eu lhes falaria que escutassem a música ‘She’, cantada pelo Elvis Costello e escrita por Charles Aznavour e Herbert Kretzmer

Ela fala de mim – com todas as suas contradições [por que não dizer: minhas contradições]

E ela pode não ter sido feita para mim, mas caibo nela como se eu tivesse sido feita para ela

E no dia que alguém me amar, é assim que quero ser amada
[Vide o nome dela em francês: Tous Les Visages de L'Amour]


SHE

She may be the face I can't forget
The trace of pleasure or regret
May be my treasure or the price I have to pay
She may be the song that summer sings
May be the chill that autumn brings
May be a hundred different things
Within the measure of a day
She may be the beauty or the beast
May be the famine or the feast
May turn each day into a Heaven or a Hell
She may be the mirror of my dreams
A smile reflected in a stream
She may not be what she may seem
Inside her shell....
She, who always seems so happy in a crowd
Whose eyes can be so private and so proud
No one's allowed to see them when they cry
She may be the love that cannot hope to last
May come to me from shadows in the past
That I remember 'till the day I die
She may be the reason I survive
The why and wherefore I'm alive
The one I care for through the rough and ready years
Me, I'll take her laughter and her tears
And make them all my souvenirs
For where she goes I've got to be
The meaning of my life is
She....She
Oh, she....



* porque sou minha melhor amiga e pior inimiga. e porque minha maior qualidade é também meu maior defeito

Friday, October 06, 2006


[arrumação]

A vida é formada de oi's e tchau's. De encontros e despedidas.

E tudo o mais que vivemos são formas de lidarmos com isso.

Nos vemos, pobres coitados pequenos que somos nós, tendo que sempre nos superar: superar uma dor, superar uma saudade, superar o tempo que não pára nem nos deixa parar.

Vivemos em constante arrumação.

Uma reforma eterna acontece dentro de nós.

E nos parece que cada espaço tem em si um tempo e tudo o que pertenceu àquele tempo.

E temos que ser esse super-faxineiro, que separa todas as coisas boas que não mais existem em um cantinho de saudade que será revisitado sempre que precisarmos de um sorriso certo.

Porque é isso, sabe?
Um sorriso que está no passado é um sorriso certo.
Um sorriso que teremos para sempre dentro de nós.

É claro que nem sempre essa arrumação é justa conosco: às vezes algo nos acontece e ficamos com uma vontade de correr para aquele canto e falar o que nos aconteceu, de ouvir aquela voz, aquela gargalhada, de receber aquele abraço, aquele olhar.

Mas aquela parte ali já foi removida, já pertence a outro espaço, já ficou no cantinho da saudade. E dói termos que nos acostumar com isso. Termos que nos lembrar constantemente que precisamos fazer essa arrumação sempre, que sempre que tudo aquilo nos aparecer, termos que ir lá no cantinho da saudade e depositar lá o que sentimos.

É uma arrumação dolorosa, essa. Leva dias, meses, anos. Leva tempo.

E aí chega um dia em que olhamos ao nosso redor e não precisamos mais arrumar tanto: tudo está no lugar em que deveria.

Quando esse dia chega, essa arrumação nos ajuda: sabemos o caminho que devemos trilhar para revisitar o nosso cantinho de saudade.

Lá, guardamos tudo de bom. Lá, só coisas boas são permitidas. Lá estão o sorriso bonito, os momentos de carinho, os momentos bons que nos são como fotos mentais, os abraços, os beijos, as palavras, a força que outrora recebemos [e que, veja só, ainda continua conosco, ainda funciona].

Nenhuma despedida é fácil.
Nenhum adeus é completamente justo.

E aos que ficam, uma nova vida é dada sem que seja nossa escolha. E uma arrumação nos é imposta para que continuemos. E nos é exigido que coloquemos antigas fotos em caixas, que separemos as lembranças que nos serão ainda constantes, das que não queremos sempre por perto. E temos que lidar com o que fizemos e com o que deixamos de fazer. Com nossos erros e com nossos acertos: porque o pior de uma despedida é isso: se não podemos mais errar, também não podemos continuar a tentar acertar. E nos vemos tendo que lidar com toda a ausência, com toda a falta: podemos ver [poderemos ver sempre], mas não podemos tocar.

Mas, quando estamos prontos, colocamos então essa auto-armadura: de espanador na mão, partimos para a arrumação que sabemos necessária.

E nos falamos [olha como somos lindos por cuidarmos de nós mesmos] que está na hora de continuar, que devemos seguir adiante sem aquela parte que tivemos que colocar no cantinho da saudade.

E vamos dormir nesse dia resolutos: vemos com clareza que somos pequenos, que não podemos tudo, que o adeus não nos pede permissão, que fizemos sempre o melhor que pudemos, que aquela pessoa que um dia era nosso oi, continuará sempre a ser: um oi que agora é nosso por completo, e que nos vem na hora em que quisermos, na lembrança em que escolhermos ir buscar no nosso cantinho de saudades.

E essa é uma descoberta feliz.
É um entendimento acalentador a respeito da vida e dos seus oi's e tchau's.

Nesse dia, vamos dormir conscientes de que somos apenas faxineiros.
Nada mais.


Tuesday, October 03, 2006



[morte]

Eu sempre achei que ia morrer bem jovem. Aquele típico sentimento dramático-adolescente aonde a gente se imagina tragicamente arrancado de nossa breve existência na terra, deixando para trás uma legião de pessoas chocadas com tão prematura partida.

Algo do tipo, sabe?

Eu tinha isso como certeza. Talvez por isso eu tenha sido uma jovem sempre tão boa em ser certinha.

Hoje em dia, passado o prazo de validade e eu ainda continuar por aqui, penso exatamente o contrário.

Acho que vou morrer bem, bem velhinha.

Aquela velhinha grande, ainda desastrada, que fica feliz com os beijos recebidos, que aceita de bom grado os cafunés dados, que adora agarrar todo mundo, apertar bochechas, dar abraços longos, rir das brincadeiras das crianças, que tem um livro grande de receitas, que senta no canto de um sofá e fica só admirando aquela vida toda acontecendo ao seu redor. Serei uma velhinha que conta histórias, que diz "na minha época..." [porque não tem nem graça ser velhinha e não dizer isso], que carregará um pouco de mágoas de algumas coisas da vida que não pôde ter, que não conseguiu mudar ou concretizar, mas que terá muitas coisas boas também a dizer sobre a vida, porque a vida tem sim seu sentido e inteligência. Adorarei escutar os jovens, que me parecerão tão sábios e energizantes, sentirei dor pelo aprendizado que saberei que todos os mais jovens que eu ainda passarão, mas terei a sabedoria para entender que tudo o que nos acontece nos molda, nos faz crescer.

E, se acontecer de não ter tido filhos, meus ou do coração, arranjarei netos-sobrinhos-adotados, ou não, ou ajuntarei gente por um motivo ou outro: porque só é bom com gente perto da gente. E, um belo dia, a vida virá me cutucar e dizer que já deu, que já sorri e chorei o suficiente, que já cuidei e fui cuidada o que era para ser, que já estava na hora de recomeçar. Aí eu viraria luz, e carregaria comigo tudo o de bom que eu vi e vivi, que eu senti e absorvi. Todas minhas boas memórias.

E, aqueles que me amaram mesmo, que souberam de mim, ficariam também com apenas o que de bom eu lhes dei.

Mas é claro, sabendo como a vida é brincalhona, ela pode inventar de me tirar assim de repente, em três ou dez, ou oito anos. Aí o povo fica tudo em polvorosa, chocado e pedindo para não pensarmos nisso, para não falarmos disso. Mas dá para entender esse medo todo sim, porque, venhamos e convenhamos, viver é bom e a morte é só uma outra opção mais funesta.

Ainda assim, já que entrei no tópico, deixa eu dizer logo: quero morrer velhinha sim, porque ainda há muito o que eu ver e viver e sentir e chorar e sorrir e aprender, mas, se acontecer da vida me colocar um fim neste começo, e me mandar começar outro começo, é bom dizer que vou feliz: que não gostaria de ir cedo não, mas que vejo sentido em cada um de nós termos aqui apenas o tempo que cada um de nós devemos ter.

E, dito essa coisa incoveniente, deixa eu sair desse assunto que é grande o número que não se agrada com ele.

E para melhorar os ares: aposto no lance de ser velhinha, porque a vida e eu conversamos um bocado e ela gosta de quem lhe puxa o saco [dica valiosa essa, viu?].

O fato é que, de um jeito ou de outro, a morte sempre faz a gente pensar. Ela é como uma resolução de Ano Novo. Se quase morri, mas não morri, reavalio tudo e mudo meu estilo de vida por completo, e passo a dar valor à vida como nunca antes. Se morreu alguém perto de mim, sinto a morte à espreita, me assusto com ela e também começo a pensar sobre a vida.

Engraçado como a morte nos faz pensar sobre a vida.

Mas é lógico isso também: o claro nos faz pensar sobre o escuro, a sede nos faz pensar sobre a água, o calor nos faz pensar no vento.

Somos uns safados nós, não é? Somos todos uns safados.

Mas vá lá: eu sei que na maioria das vezes não dá para tratar a morte com bom-humor: ela deixa saudades. Saudades que sabemos que, em vida pelo menos, nunca serão saciadas. E não há nada de bom nisso. E dói. Dói muito.

Dói uma dor que só o tempo, com seu jeitinho brasileiro, consegue um jeito de nos disfarçar: ele cria um monte de coisas para a gente pensar e nos arranja outras dores e outros sorrisos para não pensarmos mais nos que pertenceram ao outro tempo.

E termina que hábito é assim: quando a gente percebe, ele já chegou faz tempo.





[amar é...]





e quem me conhece sabe o grande presente que acabei de descobrir

Sunday, October 01, 2006


[i believe]



o cérebro perguntou pro coração:

e aí, meu irmão?

e o coração respondeu rapidinho:

batendo, batendo, batendo

e o cérebro sorrindo disse:

é por isso que gosto de ti

[enfim]























Charge do Marco Aurélio
Publicada no Jornal Zero Hora [RS] e na Charge Online

Saturday, September 30, 2006


[abelhinha]*



Essa história de mel é osso.

E quando se é abelha então, pode apostar: mel não só dá doce não, mel dá trabalho.

Abelhinha indo e voltando, catando pólen, queimando caloria [e ficando, sabe Deus como, ainda rechonchudinha], com o balde indo e vindo para fabricar o mel. E desvia de um espinho, e escapa de uma mão, e esbarra em uma cerca. Mas não descansa: mel há que ser produzido.

E segue a abelhinha, sempre fabricando mel.

Tem safras em que as flores não estão lá tão bonitas e o mel não sai tão doce. Mas ainda assim a abelhinha se esforça, sai mais longe para procurar, mergulha fundo nas flores trabalhosas e sai cavando qualquer pequena semente que ajude a criar mel. Nem sempre tem sorte, é verdade: há flores que não estão podendo ajudar no mel naquele instante; há flores que um dia já fabricaram as sementinhas, mas hoje estão cansadas; há flores que não querem saber disso não.

E a abelhinha sabe que flores são todas diferentes: e que há aquela que é melhor no perfume do que na semente, e há a que prefere trabalhar bem muito em sua cor, e há aquela que quer crescer bem alto para competir com as árvores, há a que não queria ser flor e se fantasia de arbusto, e há a que está ocupada porque já já vai se transformar em fruto.

Mas sabe o que é?
Mel é doce.
E a abelhinha bzzz bzz cafoninha, sabe de uma grande verdade: não dá para viver sem doce não.

Por isso que o mel, mesmo dando um trabalhão, mesmo às vezes tendo que ser procurado nas flores mais distantes, nas flores mais fracas, nas flores que até já nem querem saber disso, o fato é, bzz bzzz, que ele tem que ser procurado.

E a abelhinha solta a mais cafona das frases para que se entenda direitinho: quando se procura, sempre se acha o mel.



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porque metáfora é um sorriso para mim

Thursday, September 28, 2006


[eu, bizarro]

Bizarro: aquele que se reconhece bizarro, por não se enquadrar no mundo a sua volta? Ou o mundo ao redor daquele que lhe estranha?

Todos nós sabemos desse conceito. Está impregnado em nós desde as longínquas histórias do super-homem bizarro: que era tudo o que o super-homem era, mas era mau. Quem não se lembra também do mundo-bizarro que as revistas em quadrinhos [conglomerado de filosofia: na subjetividade desta que vos fala] guardam? Um mundo todo ao contrário, com um sentido inverso, mas ainda assim com sentido próprio.

A idéia de um mundo bizarro ainda flutua ao nosso redor. No mundo que muda a cada novo momento, nos valores que se renovam, na língua que acompanha o tempo e a cultura. O homem que é, na verdade, mulher. A mulher que é, na verdade, homem. A criança miniatura-de-adulto. O macho-chô galã de outras épocas [aquele de calças até a cintura e jeito de homem maduro] hoje aparece reluzente e apimpolhado: sobrancelha feita e delineada. O almoço que vira sanduíche. O sanduíche que vira almoço. E não há muito certo e errado não. Há diferenças.

Bizarros cada um de nós. Com nossos sorrisos temporários, com nossas contas no fim do mês, com nossas verdades prostitutas, com nossas certezas céticas, com nossas lágrimas que secam, com nossas noites que amanhecem.

Bizarro é sempre o contexto: a pessoa calma que está em desespero; a santa que está em polvorosa; o raivoso que encontrou um momento de paz; a escritora que ficou sem palavras; o advogado que não segue leis; a prostituta que cansou de parir grosserias e abusos; o pai que, velhinho, apanhou do filho; a velhinha que ganhou na loteria e fez todas as loucuras que sempre quis; o atleta que perdeu as pernas; a modelo que engordou; o engraçado que ficou triste, o homem que chora ao nascer.

Bizarros todos nós, companheiros de uma vida louca, tão cheia de tapas na cara e de gargalhadas gostosas.

Bizarro saber que tudo que começa, um dia termina. Bizarro saber que todo fim, anuncia um novo começo. Bizarro que tudo continue. Tudo sempre continua.

Bizarro estar numa esteira automática que nos faz andar sempre, mesmo quando parados: dias que entram e saem sem nos pedir permissão.

Bizarro tempo ter nome: horas que passam. Bizarro tanta coisa caber dentro de um minuto. Bizarro um minuto ser tão pouco. Bizarro tudo ser relativo.

Bizarro te amo virar não te quero mais. Bizarro o que era bom ficar ruim; o que era ruim ficar bom. Bizarro a gente ficar velho logo quando saberia viver melhor. Bizarro dores grandes passarem e não entendermos por que elas era tão grandes.

Bizarro torre de babel ter tradutores e escolas de idiomas.

Bizarro pai e mãe ficar pequeno e o filho ficar grande. Bizarro dor e prazer se misturarem. Bizarro a mulher ficar grávida sem que ela tenha tido orgasmo: nove meses de barriga e uma vida gerada em uma transa ruim.

Bizarro saber que erraremos sempre. Que amanhã não seremos mais quem éramos ontem. Que dias melhores virão. Que novos sonhos nascerão. Que a esperança, companheira, só morre depois de nós.

Bizarro é eu não ser você, e você não ser eu, e o seu bizarro não ser o meu, e o meu bizarro não ser o seu, e nós todos não encontrarmos sentido para respeitar isso.







Wednesday, September 27, 2006


[le tutu]





Depois que nos tacam no corpo, na cara, no cérebro a alcunha de adultos, a gente aprende que aquela verdadezinha que nos pregam quando somos crianças não é bem lá verdade: dinheiro traz sim felicidade.

A única cláusula a ser levada em conta é a mesma que para todas as outras coisas: traz felicidade quando sabe ser usado, quando sabe-se de seu valor, quando está aliado a alguma moral e sabedoria.

Mas Le Tutu é uma delícia: ele bota você em um avião; ele te ajuda, a cada mês, a chegar mais perto do teu diploma; ele é uma preocupação a menos no caso de uma doença entrar em sua casa sem avisar; ele te desenha um teto, com chão e móveis; ele te faz dizer sim na hora certa para aquele(a) com quem você espera passar o resto da vida juntinho; ele é conforto na velhice; ele é diversão na juventude; é meio para a realização de sonhos.

Le Tutu veste várias camisas: e se fantasia de câmera digital, da sonhada guitarra, do mp3, do carro na garagem, do computador que precisa parar de travar, do ventilador que mata o calor, da comida que enche a barriga, da cerveja que ri com os amigos, do monitor plano com que todos sonham, do dvd que se quer na estante, do interruptor que traz a luz, da passagem de avião, da língua nova que precisa ser aprendida, do restaurante de quinta a noite, do cinema de sexta-feira, da praia do domingo, do presente do aniversário da amiga, da roupa da vitrine, da descarga no banheiro, do filho que quer chegar, da tosa do cachorro, da ração do gato, da pousada das férias, do corte de cabelo, do remédio da pressão, do sorvete numa tarde quente, da tv com muitos canais.

Le Tutu caminha junto com as escolhas que a vida moderna oferece. Se pode tudo, desde que se tenha dinheiro para tudo.

Poderoso Chefão, Le Tutu.

A coitada da não-mais-tão-classe-média, tenta pôr rédia no Le Tutu: e é como se tem dito: sobra mês no fim do dinheiro. Então, bons brasileiros que somos, encontramos nossos jeitinhos, e brincamos um eterno carnaval com Le Tutu: às vezes nos sai uma ressaca, mas vá lá.

Então Le Tutu finge que aceita malabarismo e nos vestimos de circo a cada dia. Esse fim de semana fazemos isso, no próximo não podemos fazer aquilo. Esse mês não podemos gastar com aquilo porque no mês passado já gastamos com isso.

Vez por outra deixamos o circo se vestir de fantasia e nos fingimos de abonados: e passamos algum tempo pagando o mínimo do cartão [que é o cafetão do Le Tutu].

Mas em geral assumimos nossa alcunha de subservientes de Le Tutu: só fazemos o que ele deixa mesmo.
E passamos às vezes a noite sendo infiéis por pensamento: ah, se eu ganhasse na loteria...

O grande gancho de Le Tutu, a razão pela qual continuamos a aceitar seu monopólio, é que o danado é bonito e sabe ser bom: Le Tutu faz coisas bonitas acontecerem para aqueles que lhe tratam bem.

É bem verdade que há tempos que o malabarismo engata a primeira e sai em disparada sem querer parar: são tempos em que dores de cabeça são constantes: a visão das coisas passando rápidas e incessantes traz embrulho no estômago e caos e desespero.

Mas somos fortes e chega o dia que a fase cruel do Le Tutu passa e voltamos a brincar de equilibristas equilibrados.

Na verdade, no fundo, no fundo Le Tutu sabe: é mafioso sim e deveria dar uma medalha a todos os que agüentam suas imposições sem cair e sujar a mão.



[auto-carão]*













* que é para meu inconsciente não me aprontar mais

Tuesday, September 26, 2006


[a revista e o sorriso]

Veio de presente, duas semanas antes do meu aniversário. Ligação atendida entre uma aula e outra no campus da Federal. "Me diz aí teu endereço. E teu CEP". O que tu tá aprontando? "Não esquenta, me diz aí." Passaram-se alguns dias até que chegasse o primeiro exemplar. Uma revista que Deus e o mundo conhecia e amava e só eu que nunca tinha nem ouvido falar [que é para fugir do trivial]. Promoção [olha que fofo] do dia dos namorados: compre uma, leve duas. Eu, que andava com trauma de assinatura de revistas, recebi esta outra recheada de carinho, e com uma alcunha que até tem bem me servido nos últimos meses: TPM.

A primeira veio falando de beleza, de seios mexidos e seios deixados quietos. A segunda vibrou. Toda colorida e moderna. Revolucionária: até Simone de Beauvoir lhe visitou. A terceira, bem, a terceira veio fraca, mirradinha até. Com um título transbordando de mau gosto: Por que mulher acredita em tudo?

Ora, se o grande caos emocional tem sido justamente o contrário!!
Não acreditar é que tem sido nosso problema!

Se existe príncipe em cima de cavalo branco ainda neste mundo eles não precisam mais derrotar bruxa nenhuma não. Não precisam mais salvar suas princesas porque elas, além de se salvarem, ainda carregam o príncipe na cacunda, pulam nas costas do cavalo, lhe batem os pés no cóis e saiem em disparada sem nem precisar de sela e sem amassar o vestido ou derrubar a coroa.

O que esses príncipes precisariam fazer, sua grande missão impossível, seria nos fazer crentes de novo. Eles teriam que vestir paletó de pastores e nos passar um Beabá inteligente e convincente, sem prazo de validade. Teriam que nos agarrar pelo pulso com força e, olhando nos nossos olhos, mandar nos calar e ficar quietas que eles cuidariam de tudo.

Eita. E ainda nos perguntamos por que estamos sozinhas.
Que homem neste mundo quer cuidar?
Somos suas pernas, seus braços, sua força, sua voz, seu espinafre, seu pênis até.

E ainda não entendem como não nos sentimos seguras de nos abandonar em seus braços.
Não, eles não agüentam o peso e são até honestos: deixam bem claro isso.

Mas, depois de folhear a terceira revista com um desdém grande, sem acreditar nas muitas besteiras que lhe preenchiam as páginas, cheguei em um texto, na penúltima página, que me segurou o olhar.

Feliz até doer, o nome do texto.
E não é mera coincidência que ele tenha me chamado atenção.
Desejo grande, esse.

Pouco mais que duas páginas preenchidas de sorrisos. Que valeu até um email para a autora [Milly Lacombe] que ela, claro, não vai chegar nunca a ler.
Na conclusão dela, seu ponto final: somos, na essência, sozinhos e livres.

E não pensem que ela não falou de amor ao longo de seu texto. Falou sim. E belamente.
Apenas é bom que saibamos o que a vida persistentemente nos ensina e que Milly poetizou em seu texto:

Felicidade não tem manual, mas acertando e errando a gente constrói nossa cartilha de crenças. Somos na verdade sozinhos e livres.

E a verdade é, queridos, que do nosso sorriso só nós sabemos. Dos passos que damos, só nossos pés podem ser responsáveis.
Que escrevamos sim nossas cartilhas. Cada um de nós.
Interpretação de texto é uma receitinha boa para sorriso.


Monday, September 25, 2006


[facilidades]

Ninguém sabe mais o que é andar de cavalo. As crianças de hoje, salvas as raras que pagam pouco dinheiro a dois burricos que marcham tristes em um sol escaldante de praia, não sabem do ritmo de andar em um trote de cavalo. Não sabem o que é ter o vento batendo nos cabelos e se sentir movendo em uma marcha ligeira e em um ritmo que pata humana alguma conseguiria. Ao invés disso, 4X4. Caminhonetas da classe de verde no bolso que vencem qualquer terreno com um dvd dentro de si. Ar-condiocionado, mini-bar, surround-sound. Não, it doesn't get any better than that! Mas ficará, ficará ainda melhor, tenho certeza. Os anos se passarão e outras coisas incríveis serão inventadas, outras coisas sobre as quais nos perguntaremos: como é que se vivia sem isso?

Isso tudo é muito bom. E não tem um "mas..." vindo depois dessa frase não. É tudo muito bom sim. São tempos diferentes, esses. E a cada tempo o que é de cada tempo.

Se as crianças de hoje não sabem o que é se sentir um gigante em cima do cavalgar gostoso de um cavalo e da adrenalina emocionante de um trote em disparada, as crianças de ontem também não sabiam da maravilha que é uma tv projetada, um dvd que faz tudo, que toca tudo, séries que podem ser de cada um, mil vídeo-games em um só computador, músicas em formatos compactados e que são trocadas aos milhares, existir no mundo virtual mesmo que mal se exista no mundo real.

São tempos em que a saúde é foco. E que não preciso me privar de tanto já que até a margarina agora tem versão light: que não só não é nociva, mas que faz bem ao coração.

E se hoje me der na telha ter um filho, não precisa de muita complicação não: o dinheiro certo e lá estou eu com a semente plantada e crescendo, tudo feitinho em um procedimento banal já.

Se meu livro da biblioteca já venceu, sem problemas, dois cliques e dois links e já o renovo. Só terei que me preocupar com isso de novo em 23 dias.

Entrada para o cinema sem pegar fila? Ora pois não! Compre seu ingresso online!

Sorvete no corpo que não quer engordar? Temos todos os sabores a sua disposição com 0% de gordura.

Refrigerante que daqui a pouco vai ser seu preferido?
Coca Light e Sprite Zero.
É viciante sim.
É bom sim.

Vestibular injusto que foi responsável durante tanto tempo pela depressão e até suicídio de tantos jovens: não se preocupe: uma faculdade em cada esquina resolve esse problema. Basta ter dinheiro para a mensalidade.

Computador ligado na impressora, com porta usb para o pen drive, para a câmera digital, com saída para o seu som, placa de vídeo, microfone e câmera: tudo essencial e indispensável.

Fazer curso de datilografia com as freiras? Digitar é respirar. Faz parte do dia a dia. Não há quem não saiba.

O tempo... bem... está aí uma coisinha para a qual ainda não conseguimos uma solução.
Vai embora rapidinho, ele.

No Japão foi lançada uma campanha anti-stress onde os empresários diminuíram a jornada de trabalho para que os pais e mães de família tivessem mais tempo para seus filhos e cônjuges. O que esses japoneses fizeram? Arranjaram um segundo trabalho para o tempo que havia sido lhes dado. As empresas tiveram que voltar atrás.

Não há como lembrar da frase do meu querido Seinfeld: "in life, it seems, wherever I am, I have to go.

Nós temos todos que ir sempre, sim. Mais que isso: temos que estar indo. Temos que estar em um tráfego imaginário bem real. Em movimento.

Encaixamos todos nossas agendas: aula, depois trabalho, depois almoço, dá tempo para passar acolá e pagar aquela conta, depois mais trabalho, depois pegar filho na escola, deixar no inglês e, enquanto isso, ir fazer aquela feira, voltar para casa, preparar jantar: acho que amanhã se acordar tal hora dá para ver aquele filme, fazer aquela caminhada, conversar com fulano.

Em qual outro tempo na história se faz sentido ter super-mercados 24 hrs?

Em qual outro tempo na história se tem um portal eternamente aberto para que se colher informações, para se comunicar, para interagir, para comprar?
Com certeza esse é um momento único na história da humanidade.

As conseqüências disso, ora, todos nós sabemos.
Não é o assunto deste texto o fato dos excessos desse tempo ter posto no Planeta um atestado de morte com data marcada.

Hoje, há que se sobreviver, mas mais que isso: há que se ser original, diferencial é a palavra, a chave do sucesso.

Em que outro tempo pessoalidade seria sinônimo de diferencial e não de natural?

São muitas as regras sociais de hoje.
Como assim você não tem Orkut?
Você não viu o vídeo da Cicarelli????

Email, não, todo mundo tem email.
Celular: dá licença: hellooo!!

Vivemos em um mundo de links.
E ai de quem não os tiver: será fadado ao vácuo social aonde não há justificativa mais justificável: se tivesse celular, email, orkut, isso não teria acontecido.

E não há lições de moral neste texto.

Se no fim dele você está esperando um: e é por isso que antigamente as pessoas eram felizes e hoje não são, você não vai encontrar.
Não aqui.

Eu sei lá porque as pessoas não são felizes???
Se pode tudo hoje: se ganha dinheiro, pode se comunicar com qualquer um a qualquer hora, se quero comer mas não quero engordar há cada vez mais um mundo de coisas cujo sabor está cada vez mais próximo dos real things, posso trabalhar deitada na minha cama com meu notebook, baixo minhas músicas e meus filmes preferidos de graça, coloco o peito que sempre quis, tiro a barriga que nunca quis, paro de usar os óculos que nunca gostei, programo minha televisão com o que eu quiser, leio o que quero quando quero, posso ser gay, posso ser metro, posso ser emo até! Posso não ter religião e ainda ser respeitado em minha espiritualidade. Posso comer só orgânicos e não ser considerado cafona, mas sim legal. Posso ser vegetariano, posso ser carnívoro. Vou ao meu banco sem sair de casa, faço interurbano sem pagar interurbano, passo uma hora e meia gritando como bicho e chamo isso de ginástica, vejo palyboy no ônibus, ando no metrô escutando música, assisto filme no avião, vejo na hora se gostei da foto que tirei, gravo a música que compus, visto o que quero, tatuo o que quero, furo o que quero: e é tudo estilo.

Viver hoje é, mais que nunca, poder fazer escolhas.

Só acho que nenhum de nós imaginou que tantas facilidades não fariam lá a vida tão mais fácil.

Lembro-me da típica história da Seleções: a médica famosa que teve traumatismo craniano e agora tinha como pior desafio escolher um sanduíche num fast food da vida: de carne? de frango? com picles? com salada? com maionese? baguete? pão bola? tomate? ketchup? gergelim? com coca? com suco? com guaraná? com água? com sobremesa? cartão? cheque? dinheiro? tem troco?

E acaba que tantas vezes a gente pede a beleza do pão bola com um molho que faz o pão ficar ensopado, um ketchup que não deixa a gente sentir o gosto do frango e uma sobremesa que não coube na fome que não era tanta.

Vai entender: o tempo passa, o tempo voa, e tudo acaba na mesma coisa de sempre: somos nossas escolhas.





Sunday, September 24, 2006


[tem como não amar?]




















do site FWW


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E, enquanto isso, na sala de justiça...

> É bom olhar para o lado e ver fortaleza: é inspirador isso. Te faz cantar sorrindo para si mesma: "Se não eu, quem vai fazer você feliz?"

> O complicado da sala de aula é a burocracia: ter que fazer as coisas como manda ela e não como você acha certo e produtivo.

> Jiraya, Sucessor de Togakuri, grita lá da sala de tv ao seu inimigo: "Os ninjas também têm piedade! Você não está em condições de lutar!"
[e aí, mundo, não dá pra fazer isso também de vez em quando não, hein???]

> Tanta coisa na estante, meu Deus, tanta coisa na estante. Vou já pegar um banquinho.

> O telefone tá me devendo uma. Ou duas. Ou três.

> Férias. Eu quero férias. Contando os dias para entrar num avião.

> Ok. Vontade de ligar para um parente acolá e lhes lembrar que cada um que aprenda a dar valor ao que tem. E que respeite a minha rainha, que respeite a minha rainha!

> Zero na carteira, mas camarão na barriga. Temos que amar freezer, temos que amar.

> Achei a música. Falta aprender a cantá-la; ou contá-la: não sei bem ainda.

> Tsc tsc tsc: mais uma vez, mais uma vez. Vamos ver quantas ainda serão até que eu aprenda. Teimosia há de ter limite, há de ter limite.

> Orações sendo estocadas com grande velocidade. São grandes e muitos os desejos.






Friday, September 22, 2006


[in us]

Nothing in the Universe exists alone. Every drop of water, every human being, every plant and animal, creatures as small as the ant and as big as the elephant, are part of an immense, dynamic whole as old - and as young - as the Universe itself. To learn this is the discover the meaning of life.

Mas has a very special tool, his capacity to learn. He is the only creature on Earth that can watch a bird flying in the blue sky and see behind its structure the entire history of evolution. He alone can sit on a beach at sunset and see the laws of the Universe while he watches the sun disappear under the horizon.

Only man can look at a spider web and see, through its design, the web of life and the web of knowledge.

No other creature but man can analyse himself or examine his own soul.



~Do livro This Living Earth, de David Cavagnaro.



E, enquanto estamos falando de metáforas, de ver além das coisas, de fazer uma leitura mais subjetiva, deixe-me dizer: somos todos sobreviventes, meus queridos. E não há nada de mal nisso. O sol que se põe hoje, nascerá sim amanhã. A dor que dói agora, deixará sim de doer. O sorriso, o sorriso está bem ali, na próxima curva. Gargalhando sozinho enquanto a gente não chega para acompanhá-lo.

Lutemos nossas lutas e busquemos nossas vitórias sim: elas são mais do que parecem: são uma vitória de nós sobre nós mesmos.

[a professora e a multa]

Aconteceu de contar. Aquelas aulas de sexta-feira a noite, onde a professora vê um monte de caras vigiando o relógio, acompanhando todos os movimentos do ponteiro, anciosos com a tão esperada hora da liberdade, do dever cumprido, da presença adquirida. Pois aconteceu da professora, tão séria e correta, aproveitar o desdém da sala para contar um causo seu, acontecido uma semana e meia atrás: porque é assim, quando a coisa é real, quando são gafes e atrapalhadas nossas, todo mundo vem correndo escutar com o maior interesse.

Pois a professora, que paga todas as suas continhas em dia, que não dá motivo algum para lhe pegarem no punho, que anda na linha mesmo, estava com todos os seus documentos e taxas do carro em dia. Tudo certinho, certinho: faltando um só detalhe: havia esquecido de colocar o tal documento verde dentro do carro. E não lembrava que não lembrara de fazer isso.

Então, nessa noite de uma semana e meia atrás, a professora foi parada em uma blitz. Ao perceber-se sem o tal documento, percebeu ela também que estava prestes a receber uma multa. Sua mente correta logo lhe avisou: falha minha, eu que aceite as conseqüências.

Logo logo então, como esperado, o fiscal lhe avisa da notificação e lhe faz uma ressalva [essa sim, inesperada]:

"Se a senhora me der R$ 50, não precisa pagar a multa não".

Estupefata, surpresa, em choque, a correta professora soltou um sonoro: "Como assim?"

"Me pague uma taxa de cinqüenta reais, que a senhora não recebe a multa"

"Mas, meu senhor, eu não estou sem documento?"

"Sim, está, por isso mesmo é que estou lhe dizendo que se me der os cinqüenta, a senhora não vai receber a multa em casa nem levar pontos na carteira"

"Ah, não, pode me dar minha multa. Eu estou sem o documento, eu estou errada, pode me dar minha multa"

"A senhora não está entendendo, se eu lhe der a multa, a senhora vai pagar cinco vezes mais!! Por que não me dá os 50 e estamos conversados?"

"O senhor é que não está entendendo!! Essa multa é direito meu! É meu direito receber essa multa! Me dê minha multa e estamos conversados!"

"Isso é desacato a autoridade!!"

"Hãn?"

"A senhora está faltando com o respeito comigo!! Isso é desacato a autoridade!"

"Pois vamos fazer o seguinte, meu senhor, vamos os dois na delegacia, eu explico o meu lado para o delegado e o senhor explica o seu, aí a gente vê a quem ele dá razão."

Termina que a professora recebeu sim sua tão suada multa. Não foi indiciada por desacato e não deu a irrisória taxa descarada do fiscal.

Enquanto eu ainda olhava para a professora a achando um ser humano lindo, ouvi um "palhaça! mas é muito palhaça!" vindo da colega sentada ao meu lado.

Está aí. Estamos aí.
O que é certo ou não neste mundo?

Thursday, September 21, 2006



[Lana, Laninha, Lana Mara, Naninha, Lana Nóbrega]

Nome composto. Alguém tem a graça de tê-lo? Não há ninguém que eu conheça que seja dono dessa alcunha dupla, que não atribua uma parte de sua personalidade a um nome e outra parte de sua personalidade ao outro nome.

A Lana faz isso. A Mara faria aquilo. A Lana Mara [sempre enrascada] faz outra coisa. A Laninha, bem, a Laninha é toda doce. E a Lana tem raiva da Laninha. A Mara, por sua vez, toda amarga, não sabe muito bem o que quer não. E se mostra só raramente.

É lindo quando inventam essa história de diminutivo para o nome próprio - característica usada desde cedo na minha família [são inhas e inhos para tudo que é lado] e que a Laninha, boba, continua a seguir fazendo vida afora, sempre que tem um carinho a mais por alguém - coisa que acontece sempre.

Mas devo dizer que tenho muita raiva quando escolhem usar o tal do diminutivo e - puff - na primeira discórdia, lá vem o nome seco, sem inha ou inho. Tenho muita raiva porque aí, me parece que usam o meu nome como arma, como forma de ferir, como maneira de passar o desgosto que causei: não estou merecendo o inha naquele momento.

Nada a ver isso.

Embora aconteça muito naturalmente.

A mim, bem, já me fiz a promessa de, se algum dia acontecer de botar mais seres humanos neste mundo, de lhes dar nomes que não combinem com inhas ou inhos. Que é para lhes poupar desse caminho.

Mania boba essa minha. A de tentar poupar os outros das coisas. Tomara que quando esse dia chegar [se chegar] eu não seja mais tão besta e ponha nomes de inhos e inhas nos herdeiros mesmo. Não há espaço para poupadores nesse mundo porque eles mesmos se cansam, já que não são jamais poupados.

Sei sim o que quero: só não tenho culpa se o que quero agora não é necessariamente o que quero amanhã.

Mas sabe de quem eu mais gosto? Eu gosto muito da Naninha. Ela morreu já. Foi-se junto com a única pessoa que a conhecia.

Minha avó Pedita.

Era ela o único ser que falava um gostoso Naninha sempre que se referia a mim. E a Naninha, ah, a Naninha era mesmo linda. Um anjo nesta Terra, quase. Me preocuparia se ela ainda existisse. O mundo só lhe machucaria. Ela era pura demais, boa demais, ingênua demais, solícita demais. Tudo o que um mundo bom e justo gostaria de ter em si. Uma criança. Pronto. Era isso a Naninha: uma criança. Saudades dela. Mais saudades ainda da que lhe [re]conhecia. Seria bom ter seu colo ainda.

Mas, como disse, com a Naninha não preciso mais me preocupar. Ela não mais existe. Só lapsos dela. Resquícios de uma alma bela, só.

A Lana, bom, a Lana ainda está crescendo. Aprendendo consigo e com o mundo. Ela tem um grande defeito, confesso, ela tem a necessidade de entender as coisas. E isso lhe dá uma dor de cabeça... Ela ainda tem muito o que aprender. Não sabe muito bem aonde pisa. Não gosta do indefinido. Se estressa e se preocupa demais com tudo e todos. Resumindo: A Lana precisa aprender a maneirar. Deixar as coisas desabarem sem que seja ela a primeira a correr para colocar tudo de volta no local. Ela sabe disso, e morre de medo de conseguir esse feito um dia. Será ela ainda quando não mais se importar tanto?

A Mara, sempre escostada na Lana, não tem muito reconhecimento não. Confesso que a Lana só gosta da Mara junta a ela. Sozinha a Mara é amargura. Com a Lana a Mara é luz. É fortaleza. É peraltice. É uma sonoridade que o ouvido gosta. Impressão digital no mundo das alcunhas.

Esse pacote todo, bem, esse pacote todo é como qualquer outro ser no mundo: significa muito para uns poucos, não tem lá tanta importância para outros, sabe de poucas verdades, tem inúmeras dúvidas sobre um infinito de coisas, já machucou e já foi machucada, não tem medo da sua morte, mas da morte dos outros, não tem medo da sua doença, mas da doença dos outros, gosta muito da vida, embora viva se frustrando com caminhos que as vezes lhe aparecem [ou deixam de aparecer], se sente incrivelmente sozinha às vezes, sabe como é sortuda por ter o que tem, por ter conquistado o que já conquistou, sofre com a dor dos outros, é muito burra às vezes, e incrivelmente geniosa na maioria das horas.

Sabe do que ela precisa?
Ela precisa de um domador que saiba controlar a fera, e de um jeitoso que saiba preservar sua doçura.
Tá. Ela precisa de algo que provavelmente não existe.

Mas isso, isso é só um detalhe.

A Lana Nóbrega, ser autógrafo dos textos que cria, a Lana Nóbrega tem um certo timming. Ela tem muito orgulho quando as palavras lhe avisam que chegou a hora do ponto final. É uma delícia o ponto final: trabalho feito, recado dado, poesia nascida. A Lana Nóbrega quer morar dentro de um livro, quer viver mais em páginas do que na vida, quer brincar de Criador e inventar mundos e fazer nascer gente. A Lana Nóbrega chega a ser besta, e não deixa que lhe tirem seu valor não. Tem orgulho de si e pronto. Embora se faça de forte, a Laninha confessa por ela: nenhum texto vale tanto, quanto um querido seu gostar do texto. Mas a Lana Nóbrega segue na vida dos mestrados, dos livros, das aulas: fuga de quem achou uma alcunha que cabe no mundo da gente grande.

Isso tudo até aqui, isso não é um espelho.
Só se for espelho de carro: que está sempre refletindo coisas que vão passando.






Wednesday, September 20, 2006
























Tuesday, September 19, 2006


[a necessidade de expressar]

É que sofro desse mal. Devo dizer o que sinto. Devo falar como apreendo. Devo me comunicar. Tudo seria melhor, imagino, sem os 'yata, yata', sem os subtendidos, sem os ruídos do não-dito; mas com as narrativas do que nos passa no peito assim, jorradas, cantadas, talvez até cuspidas [em um desdém que ainda - culpa minha - não consegui conquistar].

Talvez por isso eu ame tanto musicais.

Me encanta a idéia de sentir algo e abrir o vozeirão no meio da rua, com tudo o que me dói ou ri por dentro.

Não existiria mais 'dentro', pois seríamos um só.

Numa magnicência musical.

Numa melodia de notas boas e ruins, de bom e mau gosto, de tranquilidade e de barulho.

Mas ninguém seria analfabeto na música.

E todos sairiam por aí cantarolando músicas de mocinhos e de vilões.

E o elenco seria o certo.
Porque cada um saberia melhor o papel que lhe cabe.
E as falas que lhe são permitidas.

Roteiros devem existir.
Maria não pode ser Victoria.
Forest Gump não poderia jamais estar na pele do Náufrago.
É simples assim.

E acabo ainda por achar meu canto. Minha fala. Meu roteiro.
Sou diretora de mim. E meu filme não precisa ser apreciado por muitos.
Apenas pelos que compram o dvd e o assistem de novo e de novo com um carinho genuíno e honesto.
A esses, minha obra inteira. Pois são a razão do filme.

Tempo de reflexões. E, assumo, de solidão.

Sunday, September 17, 2006


[para eu não esquecer]



[Tempo]

Fala turbante escuro
De enfeite redondo
Branco-amarelo

Fala silêncio noturno
Fechar de olhos
Do tempo passado

Falam horas que andam
Até chegar a luz
Sonhos misturados
Com o acontecido
Com o não percebido
Com o já aprendido

Falam

Talvez até gritam

Murmuram por vezes

As noites que passam
Até que virem dia
Até que virem anos
Tempo constante

Até que chegue a última noite
O último silêncio
A última luz.

02/01/2006

Monday, September 11, 2006


[eu quero!]



mas não chegou aqui ainda, então, quem encontrar primeiro por favor me avise! ;]


Sunday, September 10, 2006



[sonho]

sorriso conquistado
estrada construída
ponte
brilho de uma estrela
acesa há muito
sementes que germinaram
gestação completa
nascimento feliz
oração
desejo realizado
ponto que vira reticências
livro que se abre
linhas escritas
fruto colhido
destino escolhido
ponto de partida
para outros sonhos.

~~~~~~~~~~~~~~~~~

[erro]

engano
pés pelas mãos
mãos pelos pés
tropêço
vontade de voltar atrás
consciência doída
conhecer-se falho demais
palavra burra
sem relógio
raiva desastrada
lágrima sentida
desejo de acertar
quando o ponteiro voltar
para um canto similar.


~~~~~~~~~~~~~~~~~

drops:

* fila de cinema agora é um canto perigoso: no outro dia quase nos matam por um lugar [e homens bombados continuam sendo rotulados por mim]

* desde quando casamento é canto de certezas? conheci uma noiva/recém esposa com medo de perder seu noivo/recém marido para suas convidadas

* a genitora tem sido um brigadeiro doce. e eu que tenho que parar de escolher chocolate amargo. não faz bem isso.

* um, dois, três: eu quero, eu quero, eu quero!

* às vezes me parece que vivi já mil vidas dentro de uma. e novas vidas continuam a aparecer. ainda não decidi se isso é necessariamente ruim.

* parlez vous pour moi, s'il vous plaît

* o ambiente tem agora outro significado. adoro isso. adoro. estou virando gente grande.

[wake up]*

wake up
for it was only a dream
a good dream
a wrong dream

the monument
was not me

it was us
or the us we thought we were
and we were not

two children
longing to grow up
and failing miserably

two hearts
so alike
they thought they were one

and they were not

and fights and shouts and sorrows
because its tiring to be strong always

the hearts are free now
the hearts are two now

just as they should
be

lets be now
let it be now
we are free now

lets wake up
lets grow up

tomorrow is a good day


~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
* não encontrando uma letra de música perfeita,
eu escrevi uma.

porque desde os treze anos eu sei: a única coisa mais linda que uma folha em branco, é uma folha escrita


Saturday, September 09, 2006


[imagem]

As estudo há mais de dois anos. Sou com-ple-ta-men-te apaixonada por elas. Pelo reconhecimento popular que elas merecidamente conquistaram. E não valem só por mil palavras, mas por infinitas. Na verdade, elas não cabem nas palavras. A prisão lingüística não as engloba. A língua não é capaz de envolver sua dimensão. Pode até tentar, mas não é capaz de cruzar a linha que as separa em complexidade.

E olha que você não verá esta mulher aqui falando sobre as imagináveis fraquezas da palavra com muita freqüência. Até porque, elas são meu verdadeiro oxigênio.

Mas, sejamos justos

(parênteses

e cá entre nós, desde quando amar tem a ver com perfeição? queridos, queridos, são nossas falhas que nos constituem. elas nos formam e nos transformam em indivíduos. quer saber porque amo a vida? bem, há sete anos, numa noite de inverno mais fria que se tinha em michigan desde trinta anos, o windchill [vento] estava de menos trinta e era in.su.por.tá.vel. neste minuto, em fortaleza, ce, ano de 2006, uma brisa acabou de me entrar pela janela e foi uma sensação de.li.ci.o.sa. está vendo? é isso que amo. são muitos os significados, são muitas as sensações, e, oba oba, são muitas as mudanças. o vento que me é ruim um dia, tenha certeza, me será bom amanhã. até porque, queridos, auto-ajuda à parte - porque ou todos acabamos enventualmente sendo experts nisso ou nos amargamos - o espelho é meu, o sorriso é meu, o salto alto é meu e, aleluia, tenho consciência disso.

parênteses)

e agora um colchetes um tanto cheio de alfinetes: [falhas não são sinônimo de comodidade. e atitude é bem diferente da cognata attitude. sou fã de iniciativa. aliás, é apenas isso que a vida exige de nós. apenas isso.]

voltando: sejamos justos, as imagens são o próprio homem, pois é nelas que verdadeiramente está nossa subjetividade. E tudo, eventualmente, começa e termina por elas.

Nelas o extra-imagético grita seus significados. Nelas encontramos o conforto e a decepção. A raiva e a alegria. A razão do começo e a razão do fim.

Falo de tudo. Entrelinhas existem sempre. Justamente por palavras dependerem de imagens e, dependendo delas, ultrapassarem sua limitação, se multiplicarem.

E eis que aí se encontra a sublimação entre palavras e imagens: eis sua redenção: só o homem tem o poder de transformar palavras em imagens: quando entende que palavras devem ser entendidas como palavras, e imagens como imagens. E isso se dá em um plano abstrato e interno.

Um brinde: a imagens construídas que permanecem fortes, e a imagens construídas que foram devidamente desconstruídas.

Afinal, sabedoria me ensinou que não só não podemos, mas não devemos ser fortes por outros sempre.

Fortaleza é, antes de tudo, uma escolha.

E essa imagem continuarei construindo.
Porque caminho de mãos dadas com a vida.
E verdadeiramente a amo.