Thursday, September 28, 2006


[eu, bizarro]

Bizarro: aquele que se reconhece bizarro, por não se enquadrar no mundo a sua volta? Ou o mundo ao redor daquele que lhe estranha?

Todos nós sabemos desse conceito. Está impregnado em nós desde as longínquas histórias do super-homem bizarro: que era tudo o que o super-homem era, mas era mau. Quem não se lembra também do mundo-bizarro que as revistas em quadrinhos [conglomerado de filosofia: na subjetividade desta que vos fala] guardam? Um mundo todo ao contrário, com um sentido inverso, mas ainda assim com sentido próprio.

A idéia de um mundo bizarro ainda flutua ao nosso redor. No mundo que muda a cada novo momento, nos valores que se renovam, na língua que acompanha o tempo e a cultura. O homem que é, na verdade, mulher. A mulher que é, na verdade, homem. A criança miniatura-de-adulto. O macho-chô galã de outras épocas [aquele de calças até a cintura e jeito de homem maduro] hoje aparece reluzente e apimpolhado: sobrancelha feita e delineada. O almoço que vira sanduíche. O sanduíche que vira almoço. E não há muito certo e errado não. Há diferenças.

Bizarros cada um de nós. Com nossos sorrisos temporários, com nossas contas no fim do mês, com nossas verdades prostitutas, com nossas certezas céticas, com nossas lágrimas que secam, com nossas noites que amanhecem.

Bizarro é sempre o contexto: a pessoa calma que está em desespero; a santa que está em polvorosa; o raivoso que encontrou um momento de paz; a escritora que ficou sem palavras; o advogado que não segue leis; a prostituta que cansou de parir grosserias e abusos; o pai que, velhinho, apanhou do filho; a velhinha que ganhou na loteria e fez todas as loucuras que sempre quis; o atleta que perdeu as pernas; a modelo que engordou; o engraçado que ficou triste, o homem que chora ao nascer.

Bizarros todos nós, companheiros de uma vida louca, tão cheia de tapas na cara e de gargalhadas gostosas.

Bizarro saber que tudo que começa, um dia termina. Bizarro saber que todo fim, anuncia um novo começo. Bizarro que tudo continue. Tudo sempre continua.

Bizarro estar numa esteira automática que nos faz andar sempre, mesmo quando parados: dias que entram e saem sem nos pedir permissão.

Bizarro tempo ter nome: horas que passam. Bizarro tanta coisa caber dentro de um minuto. Bizarro um minuto ser tão pouco. Bizarro tudo ser relativo.

Bizarro te amo virar não te quero mais. Bizarro o que era bom ficar ruim; o que era ruim ficar bom. Bizarro a gente ficar velho logo quando saberia viver melhor. Bizarro dores grandes passarem e não entendermos por que elas era tão grandes.

Bizarro torre de babel ter tradutores e escolas de idiomas.

Bizarro pai e mãe ficar pequeno e o filho ficar grande. Bizarro dor e prazer se misturarem. Bizarro a mulher ficar grávida sem que ela tenha tido orgasmo: nove meses de barriga e uma vida gerada em uma transa ruim.

Bizarro saber que erraremos sempre. Que amanhã não seremos mais quem éramos ontem. Que dias melhores virão. Que novos sonhos nascerão. Que a esperança, companheira, só morre depois de nós.

Bizarro é eu não ser você, e você não ser eu, e o seu bizarro não ser o meu, e o meu bizarro não ser o seu, e nós todos não encontrarmos sentido para respeitar isso.







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