Saturday, September 30, 2006


[abelhinha]*



Essa história de mel é osso.

E quando se é abelha então, pode apostar: mel não só dá doce não, mel dá trabalho.

Abelhinha indo e voltando, catando pólen, queimando caloria [e ficando, sabe Deus como, ainda rechonchudinha], com o balde indo e vindo para fabricar o mel. E desvia de um espinho, e escapa de uma mão, e esbarra em uma cerca. Mas não descansa: mel há que ser produzido.

E segue a abelhinha, sempre fabricando mel.

Tem safras em que as flores não estão lá tão bonitas e o mel não sai tão doce. Mas ainda assim a abelhinha se esforça, sai mais longe para procurar, mergulha fundo nas flores trabalhosas e sai cavando qualquer pequena semente que ajude a criar mel. Nem sempre tem sorte, é verdade: há flores que não estão podendo ajudar no mel naquele instante; há flores que um dia já fabricaram as sementinhas, mas hoje estão cansadas; há flores que não querem saber disso não.

E a abelhinha sabe que flores são todas diferentes: e que há aquela que é melhor no perfume do que na semente, e há a que prefere trabalhar bem muito em sua cor, e há aquela que quer crescer bem alto para competir com as árvores, há a que não queria ser flor e se fantasia de arbusto, e há a que está ocupada porque já já vai se transformar em fruto.

Mas sabe o que é?
Mel é doce.
E a abelhinha bzzz bzz cafoninha, sabe de uma grande verdade: não dá para viver sem doce não.

Por isso que o mel, mesmo dando um trabalhão, mesmo às vezes tendo que ser procurado nas flores mais distantes, nas flores mais fracas, nas flores que até já nem querem saber disso, o fato é, bzz bzzz, que ele tem que ser procurado.

E a abelhinha solta a mais cafona das frases para que se entenda direitinho: quando se procura, sempre se acha o mel.



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porque metáfora é um sorriso para mim

Thursday, September 28, 2006


[eu, bizarro]

Bizarro: aquele que se reconhece bizarro, por não se enquadrar no mundo a sua volta? Ou o mundo ao redor daquele que lhe estranha?

Todos nós sabemos desse conceito. Está impregnado em nós desde as longínquas histórias do super-homem bizarro: que era tudo o que o super-homem era, mas era mau. Quem não se lembra também do mundo-bizarro que as revistas em quadrinhos [conglomerado de filosofia: na subjetividade desta que vos fala] guardam? Um mundo todo ao contrário, com um sentido inverso, mas ainda assim com sentido próprio.

A idéia de um mundo bizarro ainda flutua ao nosso redor. No mundo que muda a cada novo momento, nos valores que se renovam, na língua que acompanha o tempo e a cultura. O homem que é, na verdade, mulher. A mulher que é, na verdade, homem. A criança miniatura-de-adulto. O macho-chô galã de outras épocas [aquele de calças até a cintura e jeito de homem maduro] hoje aparece reluzente e apimpolhado: sobrancelha feita e delineada. O almoço que vira sanduíche. O sanduíche que vira almoço. E não há muito certo e errado não. Há diferenças.

Bizarros cada um de nós. Com nossos sorrisos temporários, com nossas contas no fim do mês, com nossas verdades prostitutas, com nossas certezas céticas, com nossas lágrimas que secam, com nossas noites que amanhecem.

Bizarro é sempre o contexto: a pessoa calma que está em desespero; a santa que está em polvorosa; o raivoso que encontrou um momento de paz; a escritora que ficou sem palavras; o advogado que não segue leis; a prostituta que cansou de parir grosserias e abusos; o pai que, velhinho, apanhou do filho; a velhinha que ganhou na loteria e fez todas as loucuras que sempre quis; o atleta que perdeu as pernas; a modelo que engordou; o engraçado que ficou triste, o homem que chora ao nascer.

Bizarros todos nós, companheiros de uma vida louca, tão cheia de tapas na cara e de gargalhadas gostosas.

Bizarro saber que tudo que começa, um dia termina. Bizarro saber que todo fim, anuncia um novo começo. Bizarro que tudo continue. Tudo sempre continua.

Bizarro estar numa esteira automática que nos faz andar sempre, mesmo quando parados: dias que entram e saem sem nos pedir permissão.

Bizarro tempo ter nome: horas que passam. Bizarro tanta coisa caber dentro de um minuto. Bizarro um minuto ser tão pouco. Bizarro tudo ser relativo.

Bizarro te amo virar não te quero mais. Bizarro o que era bom ficar ruim; o que era ruim ficar bom. Bizarro a gente ficar velho logo quando saberia viver melhor. Bizarro dores grandes passarem e não entendermos por que elas era tão grandes.

Bizarro torre de babel ter tradutores e escolas de idiomas.

Bizarro pai e mãe ficar pequeno e o filho ficar grande. Bizarro dor e prazer se misturarem. Bizarro a mulher ficar grávida sem que ela tenha tido orgasmo: nove meses de barriga e uma vida gerada em uma transa ruim.

Bizarro saber que erraremos sempre. Que amanhã não seremos mais quem éramos ontem. Que dias melhores virão. Que novos sonhos nascerão. Que a esperança, companheira, só morre depois de nós.

Bizarro é eu não ser você, e você não ser eu, e o seu bizarro não ser o meu, e o meu bizarro não ser o seu, e nós todos não encontrarmos sentido para respeitar isso.







Wednesday, September 27, 2006


[le tutu]





Depois que nos tacam no corpo, na cara, no cérebro a alcunha de adultos, a gente aprende que aquela verdadezinha que nos pregam quando somos crianças não é bem lá verdade: dinheiro traz sim felicidade.

A única cláusula a ser levada em conta é a mesma que para todas as outras coisas: traz felicidade quando sabe ser usado, quando sabe-se de seu valor, quando está aliado a alguma moral e sabedoria.

Mas Le Tutu é uma delícia: ele bota você em um avião; ele te ajuda, a cada mês, a chegar mais perto do teu diploma; ele é uma preocupação a menos no caso de uma doença entrar em sua casa sem avisar; ele te desenha um teto, com chão e móveis; ele te faz dizer sim na hora certa para aquele(a) com quem você espera passar o resto da vida juntinho; ele é conforto na velhice; ele é diversão na juventude; é meio para a realização de sonhos.

Le Tutu veste várias camisas: e se fantasia de câmera digital, da sonhada guitarra, do mp3, do carro na garagem, do computador que precisa parar de travar, do ventilador que mata o calor, da comida que enche a barriga, da cerveja que ri com os amigos, do monitor plano com que todos sonham, do dvd que se quer na estante, do interruptor que traz a luz, da passagem de avião, da língua nova que precisa ser aprendida, do restaurante de quinta a noite, do cinema de sexta-feira, da praia do domingo, do presente do aniversário da amiga, da roupa da vitrine, da descarga no banheiro, do filho que quer chegar, da tosa do cachorro, da ração do gato, da pousada das férias, do corte de cabelo, do remédio da pressão, do sorvete numa tarde quente, da tv com muitos canais.

Le Tutu caminha junto com as escolhas que a vida moderna oferece. Se pode tudo, desde que se tenha dinheiro para tudo.

Poderoso Chefão, Le Tutu.

A coitada da não-mais-tão-classe-média, tenta pôr rédia no Le Tutu: e é como se tem dito: sobra mês no fim do dinheiro. Então, bons brasileiros que somos, encontramos nossos jeitinhos, e brincamos um eterno carnaval com Le Tutu: às vezes nos sai uma ressaca, mas vá lá.

Então Le Tutu finge que aceita malabarismo e nos vestimos de circo a cada dia. Esse fim de semana fazemos isso, no próximo não podemos fazer aquilo. Esse mês não podemos gastar com aquilo porque no mês passado já gastamos com isso.

Vez por outra deixamos o circo se vestir de fantasia e nos fingimos de abonados: e passamos algum tempo pagando o mínimo do cartão [que é o cafetão do Le Tutu].

Mas em geral assumimos nossa alcunha de subservientes de Le Tutu: só fazemos o que ele deixa mesmo.
E passamos às vezes a noite sendo infiéis por pensamento: ah, se eu ganhasse na loteria...

O grande gancho de Le Tutu, a razão pela qual continuamos a aceitar seu monopólio, é que o danado é bonito e sabe ser bom: Le Tutu faz coisas bonitas acontecerem para aqueles que lhe tratam bem.

É bem verdade que há tempos que o malabarismo engata a primeira e sai em disparada sem querer parar: são tempos em que dores de cabeça são constantes: a visão das coisas passando rápidas e incessantes traz embrulho no estômago e caos e desespero.

Mas somos fortes e chega o dia que a fase cruel do Le Tutu passa e voltamos a brincar de equilibristas equilibrados.

Na verdade, no fundo, no fundo Le Tutu sabe: é mafioso sim e deveria dar uma medalha a todos os que agüentam suas imposições sem cair e sujar a mão.



[auto-carão]*













* que é para meu inconsciente não me aprontar mais

Tuesday, September 26, 2006


[a revista e o sorriso]

Veio de presente, duas semanas antes do meu aniversário. Ligação atendida entre uma aula e outra no campus da Federal. "Me diz aí teu endereço. E teu CEP". O que tu tá aprontando? "Não esquenta, me diz aí." Passaram-se alguns dias até que chegasse o primeiro exemplar. Uma revista que Deus e o mundo conhecia e amava e só eu que nunca tinha nem ouvido falar [que é para fugir do trivial]. Promoção [olha que fofo] do dia dos namorados: compre uma, leve duas. Eu, que andava com trauma de assinatura de revistas, recebi esta outra recheada de carinho, e com uma alcunha que até tem bem me servido nos últimos meses: TPM.

A primeira veio falando de beleza, de seios mexidos e seios deixados quietos. A segunda vibrou. Toda colorida e moderna. Revolucionária: até Simone de Beauvoir lhe visitou. A terceira, bem, a terceira veio fraca, mirradinha até. Com um título transbordando de mau gosto: Por que mulher acredita em tudo?

Ora, se o grande caos emocional tem sido justamente o contrário!!
Não acreditar é que tem sido nosso problema!

Se existe príncipe em cima de cavalo branco ainda neste mundo eles não precisam mais derrotar bruxa nenhuma não. Não precisam mais salvar suas princesas porque elas, além de se salvarem, ainda carregam o príncipe na cacunda, pulam nas costas do cavalo, lhe batem os pés no cóis e saiem em disparada sem nem precisar de sela e sem amassar o vestido ou derrubar a coroa.

O que esses príncipes precisariam fazer, sua grande missão impossível, seria nos fazer crentes de novo. Eles teriam que vestir paletó de pastores e nos passar um Beabá inteligente e convincente, sem prazo de validade. Teriam que nos agarrar pelo pulso com força e, olhando nos nossos olhos, mandar nos calar e ficar quietas que eles cuidariam de tudo.

Eita. E ainda nos perguntamos por que estamos sozinhas.
Que homem neste mundo quer cuidar?
Somos suas pernas, seus braços, sua força, sua voz, seu espinafre, seu pênis até.

E ainda não entendem como não nos sentimos seguras de nos abandonar em seus braços.
Não, eles não agüentam o peso e são até honestos: deixam bem claro isso.

Mas, depois de folhear a terceira revista com um desdém grande, sem acreditar nas muitas besteiras que lhe preenchiam as páginas, cheguei em um texto, na penúltima página, que me segurou o olhar.

Feliz até doer, o nome do texto.
E não é mera coincidência que ele tenha me chamado atenção.
Desejo grande, esse.

Pouco mais que duas páginas preenchidas de sorrisos. Que valeu até um email para a autora [Milly Lacombe] que ela, claro, não vai chegar nunca a ler.
Na conclusão dela, seu ponto final: somos, na essência, sozinhos e livres.

E não pensem que ela não falou de amor ao longo de seu texto. Falou sim. E belamente.
Apenas é bom que saibamos o que a vida persistentemente nos ensina e que Milly poetizou em seu texto:

Felicidade não tem manual, mas acertando e errando a gente constrói nossa cartilha de crenças. Somos na verdade sozinhos e livres.

E a verdade é, queridos, que do nosso sorriso só nós sabemos. Dos passos que damos, só nossos pés podem ser responsáveis.
Que escrevamos sim nossas cartilhas. Cada um de nós.
Interpretação de texto é uma receitinha boa para sorriso.


Monday, September 25, 2006


[facilidades]

Ninguém sabe mais o que é andar de cavalo. As crianças de hoje, salvas as raras que pagam pouco dinheiro a dois burricos que marcham tristes em um sol escaldante de praia, não sabem do ritmo de andar em um trote de cavalo. Não sabem o que é ter o vento batendo nos cabelos e se sentir movendo em uma marcha ligeira e em um ritmo que pata humana alguma conseguiria. Ao invés disso, 4X4. Caminhonetas da classe de verde no bolso que vencem qualquer terreno com um dvd dentro de si. Ar-condiocionado, mini-bar, surround-sound. Não, it doesn't get any better than that! Mas ficará, ficará ainda melhor, tenho certeza. Os anos se passarão e outras coisas incríveis serão inventadas, outras coisas sobre as quais nos perguntaremos: como é que se vivia sem isso?

Isso tudo é muito bom. E não tem um "mas..." vindo depois dessa frase não. É tudo muito bom sim. São tempos diferentes, esses. E a cada tempo o que é de cada tempo.

Se as crianças de hoje não sabem o que é se sentir um gigante em cima do cavalgar gostoso de um cavalo e da adrenalina emocionante de um trote em disparada, as crianças de ontem também não sabiam da maravilha que é uma tv projetada, um dvd que faz tudo, que toca tudo, séries que podem ser de cada um, mil vídeo-games em um só computador, músicas em formatos compactados e que são trocadas aos milhares, existir no mundo virtual mesmo que mal se exista no mundo real.

São tempos em que a saúde é foco. E que não preciso me privar de tanto já que até a margarina agora tem versão light: que não só não é nociva, mas que faz bem ao coração.

E se hoje me der na telha ter um filho, não precisa de muita complicação não: o dinheiro certo e lá estou eu com a semente plantada e crescendo, tudo feitinho em um procedimento banal já.

Se meu livro da biblioteca já venceu, sem problemas, dois cliques e dois links e já o renovo. Só terei que me preocupar com isso de novo em 23 dias.

Entrada para o cinema sem pegar fila? Ora pois não! Compre seu ingresso online!

Sorvete no corpo que não quer engordar? Temos todos os sabores a sua disposição com 0% de gordura.

Refrigerante que daqui a pouco vai ser seu preferido?
Coca Light e Sprite Zero.
É viciante sim.
É bom sim.

Vestibular injusto que foi responsável durante tanto tempo pela depressão e até suicídio de tantos jovens: não se preocupe: uma faculdade em cada esquina resolve esse problema. Basta ter dinheiro para a mensalidade.

Computador ligado na impressora, com porta usb para o pen drive, para a câmera digital, com saída para o seu som, placa de vídeo, microfone e câmera: tudo essencial e indispensável.

Fazer curso de datilografia com as freiras? Digitar é respirar. Faz parte do dia a dia. Não há quem não saiba.

O tempo... bem... está aí uma coisinha para a qual ainda não conseguimos uma solução.
Vai embora rapidinho, ele.

No Japão foi lançada uma campanha anti-stress onde os empresários diminuíram a jornada de trabalho para que os pais e mães de família tivessem mais tempo para seus filhos e cônjuges. O que esses japoneses fizeram? Arranjaram um segundo trabalho para o tempo que havia sido lhes dado. As empresas tiveram que voltar atrás.

Não há como lembrar da frase do meu querido Seinfeld: "in life, it seems, wherever I am, I have to go.

Nós temos todos que ir sempre, sim. Mais que isso: temos que estar indo. Temos que estar em um tráfego imaginário bem real. Em movimento.

Encaixamos todos nossas agendas: aula, depois trabalho, depois almoço, dá tempo para passar acolá e pagar aquela conta, depois mais trabalho, depois pegar filho na escola, deixar no inglês e, enquanto isso, ir fazer aquela feira, voltar para casa, preparar jantar: acho que amanhã se acordar tal hora dá para ver aquele filme, fazer aquela caminhada, conversar com fulano.

Em qual outro tempo na história se faz sentido ter super-mercados 24 hrs?

Em qual outro tempo na história se tem um portal eternamente aberto para que se colher informações, para se comunicar, para interagir, para comprar?
Com certeza esse é um momento único na história da humanidade.

As conseqüências disso, ora, todos nós sabemos.
Não é o assunto deste texto o fato dos excessos desse tempo ter posto no Planeta um atestado de morte com data marcada.

Hoje, há que se sobreviver, mas mais que isso: há que se ser original, diferencial é a palavra, a chave do sucesso.

Em que outro tempo pessoalidade seria sinônimo de diferencial e não de natural?

São muitas as regras sociais de hoje.
Como assim você não tem Orkut?
Você não viu o vídeo da Cicarelli????

Email, não, todo mundo tem email.
Celular: dá licença: hellooo!!

Vivemos em um mundo de links.
E ai de quem não os tiver: será fadado ao vácuo social aonde não há justificativa mais justificável: se tivesse celular, email, orkut, isso não teria acontecido.

E não há lições de moral neste texto.

Se no fim dele você está esperando um: e é por isso que antigamente as pessoas eram felizes e hoje não são, você não vai encontrar.
Não aqui.

Eu sei lá porque as pessoas não são felizes???
Se pode tudo hoje: se ganha dinheiro, pode se comunicar com qualquer um a qualquer hora, se quero comer mas não quero engordar há cada vez mais um mundo de coisas cujo sabor está cada vez mais próximo dos real things, posso trabalhar deitada na minha cama com meu notebook, baixo minhas músicas e meus filmes preferidos de graça, coloco o peito que sempre quis, tiro a barriga que nunca quis, paro de usar os óculos que nunca gostei, programo minha televisão com o que eu quiser, leio o que quero quando quero, posso ser gay, posso ser metro, posso ser emo até! Posso não ter religião e ainda ser respeitado em minha espiritualidade. Posso comer só orgânicos e não ser considerado cafona, mas sim legal. Posso ser vegetariano, posso ser carnívoro. Vou ao meu banco sem sair de casa, faço interurbano sem pagar interurbano, passo uma hora e meia gritando como bicho e chamo isso de ginástica, vejo palyboy no ônibus, ando no metrô escutando música, assisto filme no avião, vejo na hora se gostei da foto que tirei, gravo a música que compus, visto o que quero, tatuo o que quero, furo o que quero: e é tudo estilo.

Viver hoje é, mais que nunca, poder fazer escolhas.

Só acho que nenhum de nós imaginou que tantas facilidades não fariam lá a vida tão mais fácil.

Lembro-me da típica história da Seleções: a médica famosa que teve traumatismo craniano e agora tinha como pior desafio escolher um sanduíche num fast food da vida: de carne? de frango? com picles? com salada? com maionese? baguete? pão bola? tomate? ketchup? gergelim? com coca? com suco? com guaraná? com água? com sobremesa? cartão? cheque? dinheiro? tem troco?

E acaba que tantas vezes a gente pede a beleza do pão bola com um molho que faz o pão ficar ensopado, um ketchup que não deixa a gente sentir o gosto do frango e uma sobremesa que não coube na fome que não era tanta.

Vai entender: o tempo passa, o tempo voa, e tudo acaba na mesma coisa de sempre: somos nossas escolhas.





Sunday, September 24, 2006


[tem como não amar?]




















do site FWW


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E, enquanto isso, na sala de justiça...

> É bom olhar para o lado e ver fortaleza: é inspirador isso. Te faz cantar sorrindo para si mesma: "Se não eu, quem vai fazer você feliz?"

> O complicado da sala de aula é a burocracia: ter que fazer as coisas como manda ela e não como você acha certo e produtivo.

> Jiraya, Sucessor de Togakuri, grita lá da sala de tv ao seu inimigo: "Os ninjas também têm piedade! Você não está em condições de lutar!"
[e aí, mundo, não dá pra fazer isso também de vez em quando não, hein???]

> Tanta coisa na estante, meu Deus, tanta coisa na estante. Vou já pegar um banquinho.

> O telefone tá me devendo uma. Ou duas. Ou três.

> Férias. Eu quero férias. Contando os dias para entrar num avião.

> Ok. Vontade de ligar para um parente acolá e lhes lembrar que cada um que aprenda a dar valor ao que tem. E que respeite a minha rainha, que respeite a minha rainha!

> Zero na carteira, mas camarão na barriga. Temos que amar freezer, temos que amar.

> Achei a música. Falta aprender a cantá-la; ou contá-la: não sei bem ainda.

> Tsc tsc tsc: mais uma vez, mais uma vez. Vamos ver quantas ainda serão até que eu aprenda. Teimosia há de ter limite, há de ter limite.

> Orações sendo estocadas com grande velocidade. São grandes e muitos os desejos.






Friday, September 22, 2006


[in us]

Nothing in the Universe exists alone. Every drop of water, every human being, every plant and animal, creatures as small as the ant and as big as the elephant, are part of an immense, dynamic whole as old - and as young - as the Universe itself. To learn this is the discover the meaning of life.

Mas has a very special tool, his capacity to learn. He is the only creature on Earth that can watch a bird flying in the blue sky and see behind its structure the entire history of evolution. He alone can sit on a beach at sunset and see the laws of the Universe while he watches the sun disappear under the horizon.

Only man can look at a spider web and see, through its design, the web of life and the web of knowledge.

No other creature but man can analyse himself or examine his own soul.



~Do livro This Living Earth, de David Cavagnaro.



E, enquanto estamos falando de metáforas, de ver além das coisas, de fazer uma leitura mais subjetiva, deixe-me dizer: somos todos sobreviventes, meus queridos. E não há nada de mal nisso. O sol que se põe hoje, nascerá sim amanhã. A dor que dói agora, deixará sim de doer. O sorriso, o sorriso está bem ali, na próxima curva. Gargalhando sozinho enquanto a gente não chega para acompanhá-lo.

Lutemos nossas lutas e busquemos nossas vitórias sim: elas são mais do que parecem: são uma vitória de nós sobre nós mesmos.

[a professora e a multa]

Aconteceu de contar. Aquelas aulas de sexta-feira a noite, onde a professora vê um monte de caras vigiando o relógio, acompanhando todos os movimentos do ponteiro, anciosos com a tão esperada hora da liberdade, do dever cumprido, da presença adquirida. Pois aconteceu da professora, tão séria e correta, aproveitar o desdém da sala para contar um causo seu, acontecido uma semana e meia atrás: porque é assim, quando a coisa é real, quando são gafes e atrapalhadas nossas, todo mundo vem correndo escutar com o maior interesse.

Pois a professora, que paga todas as suas continhas em dia, que não dá motivo algum para lhe pegarem no punho, que anda na linha mesmo, estava com todos os seus documentos e taxas do carro em dia. Tudo certinho, certinho: faltando um só detalhe: havia esquecido de colocar o tal documento verde dentro do carro. E não lembrava que não lembrara de fazer isso.

Então, nessa noite de uma semana e meia atrás, a professora foi parada em uma blitz. Ao perceber-se sem o tal documento, percebeu ela também que estava prestes a receber uma multa. Sua mente correta logo lhe avisou: falha minha, eu que aceite as conseqüências.

Logo logo então, como esperado, o fiscal lhe avisa da notificação e lhe faz uma ressalva [essa sim, inesperada]:

"Se a senhora me der R$ 50, não precisa pagar a multa não".

Estupefata, surpresa, em choque, a correta professora soltou um sonoro: "Como assim?"

"Me pague uma taxa de cinqüenta reais, que a senhora não recebe a multa"

"Mas, meu senhor, eu não estou sem documento?"

"Sim, está, por isso mesmo é que estou lhe dizendo que se me der os cinqüenta, a senhora não vai receber a multa em casa nem levar pontos na carteira"

"Ah, não, pode me dar minha multa. Eu estou sem o documento, eu estou errada, pode me dar minha multa"

"A senhora não está entendendo, se eu lhe der a multa, a senhora vai pagar cinco vezes mais!! Por que não me dá os 50 e estamos conversados?"

"O senhor é que não está entendendo!! Essa multa é direito meu! É meu direito receber essa multa! Me dê minha multa e estamos conversados!"

"Isso é desacato a autoridade!!"

"Hãn?"

"A senhora está faltando com o respeito comigo!! Isso é desacato a autoridade!"

"Pois vamos fazer o seguinte, meu senhor, vamos os dois na delegacia, eu explico o meu lado para o delegado e o senhor explica o seu, aí a gente vê a quem ele dá razão."

Termina que a professora recebeu sim sua tão suada multa. Não foi indiciada por desacato e não deu a irrisória taxa descarada do fiscal.

Enquanto eu ainda olhava para a professora a achando um ser humano lindo, ouvi um "palhaça! mas é muito palhaça!" vindo da colega sentada ao meu lado.

Está aí. Estamos aí.
O que é certo ou não neste mundo?

Thursday, September 21, 2006



[Lana, Laninha, Lana Mara, Naninha, Lana Nóbrega]

Nome composto. Alguém tem a graça de tê-lo? Não há ninguém que eu conheça que seja dono dessa alcunha dupla, que não atribua uma parte de sua personalidade a um nome e outra parte de sua personalidade ao outro nome.

A Lana faz isso. A Mara faria aquilo. A Lana Mara [sempre enrascada] faz outra coisa. A Laninha, bem, a Laninha é toda doce. E a Lana tem raiva da Laninha. A Mara, por sua vez, toda amarga, não sabe muito bem o que quer não. E se mostra só raramente.

É lindo quando inventam essa história de diminutivo para o nome próprio - característica usada desde cedo na minha família [são inhas e inhos para tudo que é lado] e que a Laninha, boba, continua a seguir fazendo vida afora, sempre que tem um carinho a mais por alguém - coisa que acontece sempre.

Mas devo dizer que tenho muita raiva quando escolhem usar o tal do diminutivo e - puff - na primeira discórdia, lá vem o nome seco, sem inha ou inho. Tenho muita raiva porque aí, me parece que usam o meu nome como arma, como forma de ferir, como maneira de passar o desgosto que causei: não estou merecendo o inha naquele momento.

Nada a ver isso.

Embora aconteça muito naturalmente.

A mim, bem, já me fiz a promessa de, se algum dia acontecer de botar mais seres humanos neste mundo, de lhes dar nomes que não combinem com inhas ou inhos. Que é para lhes poupar desse caminho.

Mania boba essa minha. A de tentar poupar os outros das coisas. Tomara que quando esse dia chegar [se chegar] eu não seja mais tão besta e ponha nomes de inhos e inhas nos herdeiros mesmo. Não há espaço para poupadores nesse mundo porque eles mesmos se cansam, já que não são jamais poupados.

Sei sim o que quero: só não tenho culpa se o que quero agora não é necessariamente o que quero amanhã.

Mas sabe de quem eu mais gosto? Eu gosto muito da Naninha. Ela morreu já. Foi-se junto com a única pessoa que a conhecia.

Minha avó Pedita.

Era ela o único ser que falava um gostoso Naninha sempre que se referia a mim. E a Naninha, ah, a Naninha era mesmo linda. Um anjo nesta Terra, quase. Me preocuparia se ela ainda existisse. O mundo só lhe machucaria. Ela era pura demais, boa demais, ingênua demais, solícita demais. Tudo o que um mundo bom e justo gostaria de ter em si. Uma criança. Pronto. Era isso a Naninha: uma criança. Saudades dela. Mais saudades ainda da que lhe [re]conhecia. Seria bom ter seu colo ainda.

Mas, como disse, com a Naninha não preciso mais me preocupar. Ela não mais existe. Só lapsos dela. Resquícios de uma alma bela, só.

A Lana, bom, a Lana ainda está crescendo. Aprendendo consigo e com o mundo. Ela tem um grande defeito, confesso, ela tem a necessidade de entender as coisas. E isso lhe dá uma dor de cabeça... Ela ainda tem muito o que aprender. Não sabe muito bem aonde pisa. Não gosta do indefinido. Se estressa e se preocupa demais com tudo e todos. Resumindo: A Lana precisa aprender a maneirar. Deixar as coisas desabarem sem que seja ela a primeira a correr para colocar tudo de volta no local. Ela sabe disso, e morre de medo de conseguir esse feito um dia. Será ela ainda quando não mais se importar tanto?

A Mara, sempre escostada na Lana, não tem muito reconhecimento não. Confesso que a Lana só gosta da Mara junta a ela. Sozinha a Mara é amargura. Com a Lana a Mara é luz. É fortaleza. É peraltice. É uma sonoridade que o ouvido gosta. Impressão digital no mundo das alcunhas.

Esse pacote todo, bem, esse pacote todo é como qualquer outro ser no mundo: significa muito para uns poucos, não tem lá tanta importância para outros, sabe de poucas verdades, tem inúmeras dúvidas sobre um infinito de coisas, já machucou e já foi machucada, não tem medo da sua morte, mas da morte dos outros, não tem medo da sua doença, mas da doença dos outros, gosta muito da vida, embora viva se frustrando com caminhos que as vezes lhe aparecem [ou deixam de aparecer], se sente incrivelmente sozinha às vezes, sabe como é sortuda por ter o que tem, por ter conquistado o que já conquistou, sofre com a dor dos outros, é muito burra às vezes, e incrivelmente geniosa na maioria das horas.

Sabe do que ela precisa?
Ela precisa de um domador que saiba controlar a fera, e de um jeitoso que saiba preservar sua doçura.
Tá. Ela precisa de algo que provavelmente não existe.

Mas isso, isso é só um detalhe.

A Lana Nóbrega, ser autógrafo dos textos que cria, a Lana Nóbrega tem um certo timming. Ela tem muito orgulho quando as palavras lhe avisam que chegou a hora do ponto final. É uma delícia o ponto final: trabalho feito, recado dado, poesia nascida. A Lana Nóbrega quer morar dentro de um livro, quer viver mais em páginas do que na vida, quer brincar de Criador e inventar mundos e fazer nascer gente. A Lana Nóbrega chega a ser besta, e não deixa que lhe tirem seu valor não. Tem orgulho de si e pronto. Embora se faça de forte, a Laninha confessa por ela: nenhum texto vale tanto, quanto um querido seu gostar do texto. Mas a Lana Nóbrega segue na vida dos mestrados, dos livros, das aulas: fuga de quem achou uma alcunha que cabe no mundo da gente grande.

Isso tudo até aqui, isso não é um espelho.
Só se for espelho de carro: que está sempre refletindo coisas que vão passando.






Wednesday, September 20, 2006
























Tuesday, September 19, 2006


[a necessidade de expressar]

É que sofro desse mal. Devo dizer o que sinto. Devo falar como apreendo. Devo me comunicar. Tudo seria melhor, imagino, sem os 'yata, yata', sem os subtendidos, sem os ruídos do não-dito; mas com as narrativas do que nos passa no peito assim, jorradas, cantadas, talvez até cuspidas [em um desdém que ainda - culpa minha - não consegui conquistar].

Talvez por isso eu ame tanto musicais.

Me encanta a idéia de sentir algo e abrir o vozeirão no meio da rua, com tudo o que me dói ou ri por dentro.

Não existiria mais 'dentro', pois seríamos um só.

Numa magnicência musical.

Numa melodia de notas boas e ruins, de bom e mau gosto, de tranquilidade e de barulho.

Mas ninguém seria analfabeto na música.

E todos sairiam por aí cantarolando músicas de mocinhos e de vilões.

E o elenco seria o certo.
Porque cada um saberia melhor o papel que lhe cabe.
E as falas que lhe são permitidas.

Roteiros devem existir.
Maria não pode ser Victoria.
Forest Gump não poderia jamais estar na pele do Náufrago.
É simples assim.

E acabo ainda por achar meu canto. Minha fala. Meu roteiro.
Sou diretora de mim. E meu filme não precisa ser apreciado por muitos.
Apenas pelos que compram o dvd e o assistem de novo e de novo com um carinho genuíno e honesto.
A esses, minha obra inteira. Pois são a razão do filme.

Tempo de reflexões. E, assumo, de solidão.

Sunday, September 17, 2006


[para eu não esquecer]



[Tempo]

Fala turbante escuro
De enfeite redondo
Branco-amarelo

Fala silêncio noturno
Fechar de olhos
Do tempo passado

Falam horas que andam
Até chegar a luz
Sonhos misturados
Com o acontecido
Com o não percebido
Com o já aprendido

Falam

Talvez até gritam

Murmuram por vezes

As noites que passam
Até que virem dia
Até que virem anos
Tempo constante

Até que chegue a última noite
O último silêncio
A última luz.

02/01/2006

Monday, September 11, 2006


[eu quero!]



mas não chegou aqui ainda, então, quem encontrar primeiro por favor me avise! ;]


Sunday, September 10, 2006



[sonho]

sorriso conquistado
estrada construída
ponte
brilho de uma estrela
acesa há muito
sementes que germinaram
gestação completa
nascimento feliz
oração
desejo realizado
ponto que vira reticências
livro que se abre
linhas escritas
fruto colhido
destino escolhido
ponto de partida
para outros sonhos.

~~~~~~~~~~~~~~~~~

[erro]

engano
pés pelas mãos
mãos pelos pés
tropêço
vontade de voltar atrás
consciência doída
conhecer-se falho demais
palavra burra
sem relógio
raiva desastrada
lágrima sentida
desejo de acertar
quando o ponteiro voltar
para um canto similar.


~~~~~~~~~~~~~~~~~

drops:

* fila de cinema agora é um canto perigoso: no outro dia quase nos matam por um lugar [e homens bombados continuam sendo rotulados por mim]

* desde quando casamento é canto de certezas? conheci uma noiva/recém esposa com medo de perder seu noivo/recém marido para suas convidadas

* a genitora tem sido um brigadeiro doce. e eu que tenho que parar de escolher chocolate amargo. não faz bem isso.

* um, dois, três: eu quero, eu quero, eu quero!

* às vezes me parece que vivi já mil vidas dentro de uma. e novas vidas continuam a aparecer. ainda não decidi se isso é necessariamente ruim.

* parlez vous pour moi, s'il vous plaît

* o ambiente tem agora outro significado. adoro isso. adoro. estou virando gente grande.

[wake up]*

wake up
for it was only a dream
a good dream
a wrong dream

the monument
was not me

it was us
or the us we thought we were
and we were not

two children
longing to grow up
and failing miserably

two hearts
so alike
they thought they were one

and they were not

and fights and shouts and sorrows
because its tiring to be strong always

the hearts are free now
the hearts are two now

just as they should
be

lets be now
let it be now
we are free now

lets wake up
lets grow up

tomorrow is a good day


~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
* não encontrando uma letra de música perfeita,
eu escrevi uma.

porque desde os treze anos eu sei: a única coisa mais linda que uma folha em branco, é uma folha escrita


Saturday, September 09, 2006


[imagem]

As estudo há mais de dois anos. Sou com-ple-ta-men-te apaixonada por elas. Pelo reconhecimento popular que elas merecidamente conquistaram. E não valem só por mil palavras, mas por infinitas. Na verdade, elas não cabem nas palavras. A prisão lingüística não as engloba. A língua não é capaz de envolver sua dimensão. Pode até tentar, mas não é capaz de cruzar a linha que as separa em complexidade.

E olha que você não verá esta mulher aqui falando sobre as imagináveis fraquezas da palavra com muita freqüência. Até porque, elas são meu verdadeiro oxigênio.

Mas, sejamos justos

(parênteses

e cá entre nós, desde quando amar tem a ver com perfeição? queridos, queridos, são nossas falhas que nos constituem. elas nos formam e nos transformam em indivíduos. quer saber porque amo a vida? bem, há sete anos, numa noite de inverno mais fria que se tinha em michigan desde trinta anos, o windchill [vento] estava de menos trinta e era in.su.por.tá.vel. neste minuto, em fortaleza, ce, ano de 2006, uma brisa acabou de me entrar pela janela e foi uma sensação de.li.ci.o.sa. está vendo? é isso que amo. são muitos os significados, são muitas as sensações, e, oba oba, são muitas as mudanças. o vento que me é ruim um dia, tenha certeza, me será bom amanhã. até porque, queridos, auto-ajuda à parte - porque ou todos acabamos enventualmente sendo experts nisso ou nos amargamos - o espelho é meu, o sorriso é meu, o salto alto é meu e, aleluia, tenho consciência disso.

parênteses)

e agora um colchetes um tanto cheio de alfinetes: [falhas não são sinônimo de comodidade. e atitude é bem diferente da cognata attitude. sou fã de iniciativa. aliás, é apenas isso que a vida exige de nós. apenas isso.]

voltando: sejamos justos, as imagens são o próprio homem, pois é nelas que verdadeiramente está nossa subjetividade. E tudo, eventualmente, começa e termina por elas.

Nelas o extra-imagético grita seus significados. Nelas encontramos o conforto e a decepção. A raiva e a alegria. A razão do começo e a razão do fim.

Falo de tudo. Entrelinhas existem sempre. Justamente por palavras dependerem de imagens e, dependendo delas, ultrapassarem sua limitação, se multiplicarem.

E eis que aí se encontra a sublimação entre palavras e imagens: eis sua redenção: só o homem tem o poder de transformar palavras em imagens: quando entende que palavras devem ser entendidas como palavras, e imagens como imagens. E isso se dá em um plano abstrato e interno.

Um brinde: a imagens construídas que permanecem fortes, e a imagens construídas que foram devidamente desconstruídas.

Afinal, sabedoria me ensinou que não só não podemos, mas não devemos ser fortes por outros sempre.

Fortaleza é, antes de tudo, uma escolha.

E essa imagem continuarei construindo.
Porque caminho de mãos dadas com a vida.
E verdadeiramente a amo.



Friday, September 08, 2006


[intérprete]

Não é a primeira vez que ela fala por mim:

Estou à procura de um livro para ler. É um livro todo especial. Eu o imagino como a um rosto sem traços. Não lhe sei o nome nem o autor. Quem sabe, às vezes penso que estou à procura de um livro que eu mesma escreveria. Não sei. Mas faço tantas fantasias a respeito desse livro desconhecido e já tão profundamente amado. Uma das fantasias é assim. Eu o estaria lendo e de súbito, uma frase lida, com lágrimas nos olhos diria em êxtase de dor e de enfim libertação: Mas é que eu não sabia que se pode tudo, meu Deus!

-Clarice Lispector-

Thursday, September 07, 2006


[hello, goodbye, see you later]

Como boa amante da vida, dou-lhe esta razão: ela tem umas tiradas fora de série!

Nada de lingüísticas aqui neste cantinho porque, francamente, não as agüento nem no pseudo-curso-matéria-de-letras que hipocritamente digo que faço. Mas existe algo nessa história de hello, goodbye, see you later... O quê, exatamente? Bem... as respostas seriam muitas. Até porque venho aprendendo isso: as respostas são muitas!

E muitas vezes cabe apenas a você achá-las.

Mas, reflexões grudentas e pessoais à parte, ora veja só [due to the numbers of actual comments on this thing, let me just say that i speak for myself here], eu amo essas três palavrinhas. E amo mais ainda quando sabemos a hora certa - e não esqueçam, ladies and gentlemen, a maneira certa - de usá-las.

Há cinco anos atrás - não tão precisos e não tão exatos - eu arrumava minhas malas mais uma vez para retornar para este Brasil adolescente. Na mala, well, estava uma variedade de fragmentos da vida que eu havia levado lá e da vida que eu esperava levar aqui.

No meio disso tudo, um som azul [oh, my dearest color, its been some time, huh?], comprado com o último pagamento em dólar que eu recebera da faculdade em que eu estudava e trabalhava.

Um som 100% meu: diziam meus 22 anos.

E bem, não foi exatamente o motivo que me levou a comprá-lo [até porque já mencionei a cor dele, não é mesmo?], mas eu me lembro que foi um plus a mais [que é para ficar bem redundante]: quando eu o ligo, ele me diz, sempre sorrindo, hello; e quando eu o desligo, ele me diz, já saudoso, goodbye. E esses dois nominhos ficam passeando na sua telinha por algum tempo, que é para se ter certeza de sua intenção [é assim que funciona: existe poesia em tudo, desde que a vejamos].

Não. Não subestimemos a importância dos hello's e goodbye's.

Principamente não subestimemos os goodbyes.

Que na verdade, quando verdadeiros e lícitos, devem ser ditos com a entonação formada por sua própria estrutura: a good bye.

Eles são os melhores.
Eles são um circulo redondinho e querido.

E o mais importante, colegas navegantes: às vezes eles só dependem de você! ;]

E este dia sete, que era para ser verde e amarelo, pois não é que terminou sendo azul?

Meu som azul, meu cachorrinho azul, meu quarto azul, e uma lua enorme e azul lá fora.

Melhor que isso, só os sonhos que estão no meu forninho!

[azul] :]

e como sempre há espaço para um desejo: que saibamos a quem, quando e como dizer essas três palavrinhas.
somos, na verdade, todos mágicos. e o mundo, na verdade, é encantado por nós.
[e, segredo: a Terra veste a roupa do rei]


Sunday, September 03, 2006


[não é bem um segredo]

Que boba que eu sou!

Mas olha só!

Fui ler o último post e me achei tão triste... Que péssima propaganda para alguém que fala por aí que é boba para rir!
E não só fala! Ora veja só! Sou uma risadinha ambulante! Uma boba que ri até de piadas de tomates que cruzam a rua e são amassados!
Ri e ainda sente pena dos coitados dos tomates!

Quem me fez boba assim eu não sei. Mas, tenha sido a Dona S. ou o Sr. A., tenha sido o Cara lá de cima, tenha sido todo mundo junto [afinal, sozinho é que ninguém faz nada], eu gosto da mistura deles.
E ando sempre por aí muito certa de gostar dessa mistura.

Então, quem sabe este post aqui seja apenas uma forma de anular a pitada excessiva de lágrimas do post passado, ou quem sabe seja a maneira de dizer que esta jovem mulher aqui aprendeu que nem sempre vale a pena jogar no universo um momento ruim, ou quem sabe, apenas dizer que já aprendeu algumas coisas é suficiente... [afinal, universo, estou aqui e momentos ruins virão e é em você que tenho que jogá-los mesmo, ora ora].

O fato é que, graças a Deus, sou boba para rir sim.
Uma boba ingênua que acha tudo lindo, ama a vida e se apega fácil demais às pessoas.

E viva a um dia depois do outro.

E que eles continuem vindo.

Saturday, September 02, 2006

:::
[I]
:::

[O Vento]

É uma coisa engraçada, até.
Se o tempo está frio,
Ninguém o quer.

Se está quente,
E ele vem de repente,
É como um sussurro gostoso no ouvido
É como uma lágrima que vem de um sorriso

O vento nunca é indiferente
Sempre se sente o vento.

Ele anda pelo norte
E passeia pelo sul

Dança com as árvores mais altas
E vive de mãos dadas com pequenas folhinhas

Não se pode descrevê-lo
É bem verdade.
Pode alguém pintar o vento?

Mas o vento vem
E faz carinho no rosto
E brinca com bandeiras
E derruba coisas de prateleiras
E inclina a chuva
E leva a poeira para passear.

O vento é um senhor ocupado.
Anda sempre muito atarefado.
A mostrar novos caminhos.
A querer novos carinhos.
A viajar.

Sempre sempre a viajar.


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Queria pedir ao vento que parasse um pouquinho em mim.
Mas vento parado não é vento.


:::::
[II]
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[O Vento]

Um assobio no ouvido. Um cafuné na nuca. Uma mão tocando de leve o braço. Roupas balançando. Árvores dançando. Redemoinho de poeira na calçada. Bandeiras vibrando por si só. Crianças e cata-ventos de papel. Pipas flutuando e colorindo o céu. Mão segurando chapéu. Areia indo passear. Papel brincando de avião. Janelas uivando para a lua. Saia dando susto. Calor indo embora. Pássaro voando. Pulmão cheio de ar. Dedo apontando um caminho. Ondas. Vela que aprende a nadar. Molhado que vira seco. Quente que vira frio. Varanda com rede. Cafuné no rosto. Esperança dizendo oi.



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Porque em dias de um tom de azul que não gosto, eu tenho o Asdrúbal e o Asdrúbal me tem.

[e até hoje ele não cansou de mim, ora veja só]