Tuesday, September 26, 2006


[a revista e o sorriso]

Veio de presente, duas semanas antes do meu aniversário. Ligação atendida entre uma aula e outra no campus da Federal. "Me diz aí teu endereço. E teu CEP". O que tu tá aprontando? "Não esquenta, me diz aí." Passaram-se alguns dias até que chegasse o primeiro exemplar. Uma revista que Deus e o mundo conhecia e amava e só eu que nunca tinha nem ouvido falar [que é para fugir do trivial]. Promoção [olha que fofo] do dia dos namorados: compre uma, leve duas. Eu, que andava com trauma de assinatura de revistas, recebi esta outra recheada de carinho, e com uma alcunha que até tem bem me servido nos últimos meses: TPM.

A primeira veio falando de beleza, de seios mexidos e seios deixados quietos. A segunda vibrou. Toda colorida e moderna. Revolucionária: até Simone de Beauvoir lhe visitou. A terceira, bem, a terceira veio fraca, mirradinha até. Com um título transbordando de mau gosto: Por que mulher acredita em tudo?

Ora, se o grande caos emocional tem sido justamente o contrário!!
Não acreditar é que tem sido nosso problema!

Se existe príncipe em cima de cavalo branco ainda neste mundo eles não precisam mais derrotar bruxa nenhuma não. Não precisam mais salvar suas princesas porque elas, além de se salvarem, ainda carregam o príncipe na cacunda, pulam nas costas do cavalo, lhe batem os pés no cóis e saiem em disparada sem nem precisar de sela e sem amassar o vestido ou derrubar a coroa.

O que esses príncipes precisariam fazer, sua grande missão impossível, seria nos fazer crentes de novo. Eles teriam que vestir paletó de pastores e nos passar um Beabá inteligente e convincente, sem prazo de validade. Teriam que nos agarrar pelo pulso com força e, olhando nos nossos olhos, mandar nos calar e ficar quietas que eles cuidariam de tudo.

Eita. E ainda nos perguntamos por que estamos sozinhas.
Que homem neste mundo quer cuidar?
Somos suas pernas, seus braços, sua força, sua voz, seu espinafre, seu pênis até.

E ainda não entendem como não nos sentimos seguras de nos abandonar em seus braços.
Não, eles não agüentam o peso e são até honestos: deixam bem claro isso.

Mas, depois de folhear a terceira revista com um desdém grande, sem acreditar nas muitas besteiras que lhe preenchiam as páginas, cheguei em um texto, na penúltima página, que me segurou o olhar.

Feliz até doer, o nome do texto.
E não é mera coincidência que ele tenha me chamado atenção.
Desejo grande, esse.

Pouco mais que duas páginas preenchidas de sorrisos. Que valeu até um email para a autora [Milly Lacombe] que ela, claro, não vai chegar nunca a ler.
Na conclusão dela, seu ponto final: somos, na essência, sozinhos e livres.

E não pensem que ela não falou de amor ao longo de seu texto. Falou sim. E belamente.
Apenas é bom que saibamos o que a vida persistentemente nos ensina e que Milly poetizou em seu texto:

Felicidade não tem manual, mas acertando e errando a gente constrói nossa cartilha de crenças. Somos na verdade sozinhos e livres.

E a verdade é, queridos, que do nosso sorriso só nós sabemos. Dos passos que damos, só nossos pés podem ser responsáveis.
Que escrevamos sim nossas cartilhas. Cada um de nós.
Interpretação de texto é uma receitinha boa para sorriso.


1 comment:

Luiza Holanda said...

a TPM veio tepeêmica esse mês, viajando numas histórias que dizem ser de mulher, mas faz favor!

esse último texto aí deve ter passado despercebido no meio de tanto 'nã!' que soltei. hehehe. vou depois dá outra olhada, mas só porque você chamou atenção, o que já vale muito. ;)

e detalhe, eles estão é assustados, laninha. é fato. é muito desconstrução pr'esses coitados. é retirá-los de uma zona de conforto de toda uma existência.

azar o deles. e até o lance ficar equilibrado (vamos ser otimistas que há de chegar), nós iremos penar bastante junto com eles.

fazer o quê! e deles que gostamos. :P

te amo.