Tuesday, September 11, 2007

[meus homens]

São três os homens que habitam minha cabeça: longos e teimosos como todos os homens deveriam ser.

Meus três fios de cabelos brancos. ***

Eles são discretos, no entanto. Como todo homem que eu admiro.
Sabem que estão ali e isso é o que importa.

Não chegaram aos poucos. Anunciaram de vez sua chegada.
Com a fortaleza e a firmeza de homem raro.

Não vieram cinza. Não, não.
Sua branquidão ilumina os outros ao seu redor: iguais, normais, formais, ordinários.

Eles não. Meus três homens agarram-me com força. Brincam de quando comigo.
Eles anunciam, como homem ideal, sua liderança: Minha filha, vês?

Vejo, vejo.
Por seus olhos, seis olhos, vejo muito.

Tirar-lhes de minha cabeça?
Arrancar-lhes de meus pensamentos?

Qual!

Sua presença é eterna.
O que eles anunciam, abraça o tempo.
O que eles acompanham, escreve os dias.

Meus três homens lindos.

Chegaram com a coragem de quem rompe barreiras.
De quem quebra silêncio.
De quem chega com certeza.

Sou eu, dona flor, com três maridos companheiros de todos os momentos.
Em nossos banhos, lavo-lhes com prazer servil.
Cuido de sua beleza, pois a beleza deles é também minha: como todo amor deve ser.

Meus três homens dormem comigo. Dividem o travesseiro.

Acariciam-me a testa.

Gemem quando eu também o faço.

Cantam parabéns para mim, orgulhosos.

E, quando me canso deles, eles se erguem com fúria masculina: exigem: esbravejam: seguram minhas mãos com força e me fazem ver que lhes preciso.

Meus homens agarram-me sem vontade de me soltar.
Eu deixo-me agarrar sem vontade de ser solta.

E o tempo permanece em nós.



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*** Trecho adicionado para melhor entendimento dos meus dois leitores! :P

Sunday, September 09, 2007

[como vai você?] *

Às vezes as pessoas vêm lhe falar entre cochichos e assobios sobre mudanças, sobre as efemeridades da vida e sobre como tudo o que lhe acontece é realmente para o seu bem, para o seu aprendizado: experiências que lhe acontecem porque, basicamente, têm de lhe acontecer: pois pressupõem a transformação de quem você um dia foi em quem você hoje é, ou no futuro será.

Eu sei porque eu sou uma das que vive dizendo isso.

É nisso que acredito e é assim que justifico muitas, senão todas, das coisas que me acontecem.

O hoje se entrelaça ao amanhã em uma mesma malha temporal – em um significado contínuo que não apenas lhe significa, mas à sua existência.

E tudo o que lhe parece fragmentado e sem sentido e talvez até doído em demasiado na verdade realmente o é: mas o que falta se dizer é que cada fragmento é parte de um todo: e todo momento de dor constitui um sorriso futuro: mesmo que esse sorriso seja a cura dessa dor.

É como um calo que se forma no pé: ele lhe aparece latejante, incômodo, incansável em sua tarefa de lhe machucar. E lhe é impossível esquecer-se dele. Ele está ali: em carne viva, presente.

E não há band-aid que consiga isolar aquela dor de você.

E você segue convivendo com aquela dor da melhor forma que pode. Caminhando, mesmo que cada passo lhe machuque e lhe seja doído.

Até que um dia, sem que você sequer perceba, sem que você racionalize, sem que você até se lembre de procurar a caixa de band-aids, você calça seus sapatos apressada, e já bem longe no caminho percebe: o calo não lhe dói mais.

Porque assim é a dor: ela anuncia os gritos sua chegada, mas não lhe comunica sua saída.

Mas perceber que ela foi-se é talvez um dos atos humanos que mais englobem em si, o tempo.

O tempo que vem com a missão de nos fazer mais sábios, melhores companheiros de nós mesmos. O tempo que se intitula professor de qualquer um que se aceite como seu aluno.

Saber que passado, presente e futuro são constituídos da mesma massa temporal, é assumir-se ser contínuo, é entender que transformar-se é o primeiro e o último ato humano.


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Em duas palavras eu posso resumir tudo que aprendi sobre a vida: ela continua.

ROBERT LEE FROST

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* texto em homenagem à amiga do amigo.



Nova paixão idiomática minha