Thursday, August 30, 2007

[beijo]

Que às vezes a alma é beijada e a boca sorri para dentro.

~~

ESTA MENINA
TÃO PEQUENINA
QUER SER BAILARINA.
NÃO CONHECE NEM DÓ NEM RÉ
MAS SABE FICAR NA PONTA DO PÉ.
NÃO CONHECE NEM MI NEM FÁ,
MAS INCLINA O CORPO PARA CÁ E PARA LÁ.
NÃO CONHECE NEM LÁ NEM SI,
MAS FECHA OS OLHOS E SORRI.
RODA, RODA, RODA COM OS BRACINHOS NO AR
E NÃO FICA TONTA NEM SAI DO LUGAR.
PÕE NO CABELO UMA ESTRELA E UM VÉU
E DIZ QUE CAIU DO CÉU.
ESTA MENINA
TÃO PEQUENINA
QUER SER BAILARINA.
MAS DEPOIS ESQUECE TODAS AS DANÇAS,
E TAMBÉM QUER DORMIR COMO AS OUTRAS CRIANÇAS.


- cecília meireles –

Tuesday, August 28, 2007

[o visível e o invisível]


Eu tenho uma memória curtíssima. Às vezes até acho que é intencional. Lembro-me, para variar, da fala de um personagem de desenho animado: Ah, você me conhece, sou preguiçoso demais para carregar um rancor. Eu realmente não gosto de coisas pesadas. De pesado já basta o meu sempre fofinho corpo.

2007 será sempre para mim um ano de passagens. É como se este ano eu tivesse perdido a virgindade da alma.

Ainda faltam quatro meses para o final deste ano – mas dentro dele existiram tantos, tantos anos. Uma existência inteira.

Não há como eu jorrar aqui minhas transformações: elas não cabem nas palavras: só o sentir as comporta confortavelmente, expansivamente, fielmente.

No entanto, em meio a todo o caos, uma calma me possui.

Sinto-me igreja – templo de Deus. Solo sagrado. Dona de uma certeza que não posso tocar, mas que existe por todo o meu redor.

Sinto-me, ainda assim, profana. Mais humana do que nunca. Mais certa de meus erros do que nunca: se permitir errar é bom. Conforta. Lhe faz sorrir encabulada e faceira: da próxima vez acho que acerto, né?

O desespero não constrói. O desespero só desespera. Mas também ele é necessário, claro. Toda água muda de estado em altas temperaturas: e o que somos senão água? Matéria em movimento? Que evapora e condensa, evapora e condensa – mudando constantemente de estado? Tomando novas formas?

Tristes são as águas que congelam e não vão ao sol derreter-se.

Derreter-se é preciso. O estado líquido permite o movimento.

E acho que é isso: nunca fui tão líquida.

Talvez algumas coisas tenham sim perdido a aura de sagradas.

E isso causa alguma saudade. Algum pesar.

Como coisas que se tornaram menos belas, coisas que se parecem menos com um sonho bom.

Mas outras coisas são apenas ‘vinho transformado em cerveja’.

Que desceram do altar para vir pular junto com a multidão.

Os mais próximos talvez percebam pequenas mudanças. Alguns chamarão isso de amadurecimento. Outros chamarão de outras coisas – porque sempre buscamos nossas definições.

Não perca sua benevolência – disse-me uma pessoa querida.

A poliana em mim rebate: a vida é cheia de peripécias.

E eu acredito nela. Acreditarei sempre. Porque Chaplin é meu guru: o tempo é o melhor autor: sempre encontra um final perfeito. A questão é que a história não se escreve sozinha: nossos corações são canetas: nossos pensamentos, tinta: nossas atitudes, papel.

Em um mês, aproximadamente, enfrentarei, sozinha, meu monstro. Histórias tendem a se repetir. Saberei percorrer o labirinto? Acharei o meu amor? Encontrar-me-ei com reais 28 anos? Habitarei o meu castelo? Serei raciocínio lógico? Acharei entendimento para o meu sentir? São páginas que não existem ainda: e páginas não escritas são como folhas ao vento: voam em qualquer direção.

Mas carrego muitos comigo. Muitos, muitos. Um povoado conhecido e querido. Todos eles são escola para mim. Salinhas de aula que me ensinam sempre. Professores eternos.

A vida é parque de diversões: com banquinha de cachorro-quente, casa de terror, carrossel, maçã do amor, casa de espelhos, carrinho bate-bate e montanha-russa.


O que importa, no entanto, é ser água. É buscar sempre novas formas, é absorver a vida em goles – ora rápidos e sedentos, ora longos e demorados. O que importa é deliciar-se com a vida – à sua maneira. O que importa é saber o que lhe importa. O que lhe enche o coração. O que lhe enfeita a alma. O que lhe faz sorrir genuinamente.

Sunday, August 05, 2007

[o aval]

a.val
s. m. 1. Dir. Garantia plena e solidária, prestada por terceiro(s), a favor de obrigado por letra de câmbio, nota promissória, ou título semelhante, caso o emitente, sacador ou aceitante não o possa liquidar. 2. Fig. Apoio moral ou intelectual. Pl.: avales e avais.


Assim o dicionário o define. Embora eu realmente, mesmo tão facilmente crível, entenda que o adjetivo 'pleno' acima citado não lá exista com tanta facilidade...

Mas a questão a ser tratada neste texto é meramente a do último significado dado na explicação do dicionário: apoio moral ou intelectual.

O aval é algo importante: ele retira a totalidade da responsabilidade: ele divide: o aval é cúmplice. Eu, realmente, o busco sempre que possível. O aval é um aperto de mão, um abraço, um cafuné. O aval é uma concordância: uma amizade: um bem-querer: um entender: um aceitar.

O aval diz sem solenidades: pode seguir: vá em frente: faça sim.

Buscar o aval é não seguir sozinho. Buscar o aval é dizer: vem junto comigo, que é bom tê-lo ao meu lado.

O aval é sempre bom: quando é dado e quando é recebido. O aval é puro quando é verdadeiro: e tudo o que é verdadeiro é mais bonito - porque é o que é.

Eu amo o aval. O recito em minhas preces, o agradeço em meus carinhos, o clamo em minhas dores.

O aval é presença sempre querida. É sempre bem-vindo. Como um amigo do peito.

O aval deve vir junto de toda decisão importante [para que ela tenha o sabor de vários sorrisos ou de vários abraços] - mas também pode vir nas pequenas ações: pois é sempre um aconchego.

Sinônimo de companhia, o aval acalenta a alma. O aval aquece, se frio. Traz brisa, se abafado.

Ele olha nos olhos, parceiro, quando sério. Olha de canto, cúmplice, quando cotidiano.

O aval nos faz queridos: nos deixa ir em paz. O aval diz: se estiver errado, erraremos juntos: estou junto contigo.

E por isso é visita gostosa, se o recebemos. E presente sincero, se o damos.

Mas o aval tem uma exigência: ele requer intimidade, respeito. O aval é como um abraço ou um beijo: é estranho vindo de um estranho. O aval necessita de conhecimento para que traga conforto. É um abandonar-se, deixar-se julgar, esperar ser entendido. O aval beija a testa e abraça longamente. E é como uma música suave: traz paz - na proporção exata do tamanho do aval dado.

É como uma confissão escutada, sem penitência no seu final. O aval permite exatamente o que precisa ser permitido. É um colo. E a promessa de que tudo ficará bem no final.

Saturday, August 04, 2007

[Mrs. Dream]

Eu nasci às dez horas da manhã. Não tinha pressa de nascer, fiquei dentro da barriga da minha mãe o mais que pude. Tenho certeza de que, boa canceriana que sou, estava bem confortável em lugar tão quentinho e seguro.

Quando vi que havia chegado a hora, no entanto, também não me delonguei em ficar: nasci “em um cuspe” – como diria anos mais tarde minha querida avó. O que quer dizer, como minha mãe sempre fala – como um elogio a mim – que não dei trabalho para nascer ou lhe causei dores adicionais.

Abracei a idéia de respirar ar, assim como abraçava a idéia do líquido quentinho da barriga.

Porque tudo tem o seu tempo – a hora de chegar, a hora de ficar, a hora de sair.
A existência requer que o ser que nela existe, a abrace.

E assim tenho procurado existir. Sonhadora, Sonhadora: irremediável Sonhadora – dizem as vozes ao meu redor. Em tons que se dividem entre admiração e crítica.

Mas tudo bem. Chega a hora em que nos conhecemos o suficiente para respeitarmos quem somos. Para deixarmos de dar explicações ou justificativas por nos sentirmos como nos sentimos.

O que envolve também nossa noção do amor. A minha noção do amor.

Eu acredito nele. Fervorosamente.
E confesso não querer nada menos que isso.

Talvez seja verdade: talvez saber o que se quer é na realidade uma fatalidade: porque se se sabe o formato do seu sorriso – então, nenhum outro que não seja esse o trará ao seu rosto.

No entanto, existem tantos outros formatos, tantos outros sorrisos que não o do amor.
Me concentro nesses, por esses tempos.

Ocupo-me com o futuro que quero plantado. Com o hoje que tem sido tão árduo, tão cheio de atributos e necessidades de superação.
Cultivo as sementes que quero colher em um futuro próximo.
Dou à mente ocupação enquanto o coração consola-se por esperar. É paciente, ele. Sempre o foi. Teima em acreditar que será novamente habitado. Que terá ainda um dono. Não me oponho a ele. Acreditar é a chave de tudo. Se não se tem o sonho, tem-se pelo menos o sonhar.

E ele sabe disso. E sabe que eu o respeito. E sabe que somos, nós dois, os culpados: não queremos nada menos que isso. O mundo é escasso de opções para os exigentes.

No entanto, são ainda nossas exigências que nos formam. Que desenham a cor que nos pinta. Que sonham nossos sonhos.

Eu, Lana Nóbrega, sou apaixonada pelo sonhar.
Casei com ele ainda muito nova – como uma noiva prometida.

Rubem Alves recitou em meus sonhos o que lhe havia lido:

A poesia nasce do desejo de comunicar aos outros uma visão de beleza. Mas a experiência da beleza é coisa íntima, para ela não há palavras. “O que sinto”, dizia Fernando Pessoa, “na verdadeira substância com que o sinto, é absolutamente incomunicável; e quanto mais profundamente o sinto, tanto mais incomunicável é”. *

Eu sou um ser estranho – direi a quem quiser ouvir.
Porque quem vive de metáforas é, no mínimo, estranho.
Mas minha estranheza é fiel e ama – ama imensamente.

E é nesse amor que escuto o badalar de certas certezas: de que um amanhã bonito me espera. Da hora da colheita. De sonhos que serão renovados. De que sorrisos virão na forma certa: cheios de certeza e força.

O amanhã é sempre lindo. Porque nele há luz.
Porque é por conta dele que o hoje vale a pena.

E é pelo amanhã que eu repito a mim mesma: Tudo isso passará. Tudo isso passará.

E uma canção bela me enche os ouvidos: como uma oração.



~~
Do livro ‘As Cores do Crepúsculo’, p. 28.

Thursday, August 02, 2007

[24hrs sem rir]

Foi necessário cortarem minha bochecha, colocarem alguns pontinhos e me darem a sentença: Pelo menos 24 hrs sem sorrir - para que eu percebesse que tenho a síndrome do Beavis and Butthead.

hêhêhêhêhêhêhêhêhêhêhêhêhêhêhê

Moral da história: Okay: eu sou besta pra rir como uma criança de 10 meses.

Help!

~~
E é ainda neste dia fatídico que eu acho em terrível qualidade mas-ainda-assim-incrivelmente-engraçado-e-nostálgico minhas queridas Cybill e Mary-Anne!!!