Tuesday, August 28, 2007

[o visível e o invisível]


Eu tenho uma memória curtíssima. Às vezes até acho que é intencional. Lembro-me, para variar, da fala de um personagem de desenho animado: Ah, você me conhece, sou preguiçoso demais para carregar um rancor. Eu realmente não gosto de coisas pesadas. De pesado já basta o meu sempre fofinho corpo.

2007 será sempre para mim um ano de passagens. É como se este ano eu tivesse perdido a virgindade da alma.

Ainda faltam quatro meses para o final deste ano – mas dentro dele existiram tantos, tantos anos. Uma existência inteira.

Não há como eu jorrar aqui minhas transformações: elas não cabem nas palavras: só o sentir as comporta confortavelmente, expansivamente, fielmente.

No entanto, em meio a todo o caos, uma calma me possui.

Sinto-me igreja – templo de Deus. Solo sagrado. Dona de uma certeza que não posso tocar, mas que existe por todo o meu redor.

Sinto-me, ainda assim, profana. Mais humana do que nunca. Mais certa de meus erros do que nunca: se permitir errar é bom. Conforta. Lhe faz sorrir encabulada e faceira: da próxima vez acho que acerto, né?

O desespero não constrói. O desespero só desespera. Mas também ele é necessário, claro. Toda água muda de estado em altas temperaturas: e o que somos senão água? Matéria em movimento? Que evapora e condensa, evapora e condensa – mudando constantemente de estado? Tomando novas formas?

Tristes são as águas que congelam e não vão ao sol derreter-se.

Derreter-se é preciso. O estado líquido permite o movimento.

E acho que é isso: nunca fui tão líquida.

Talvez algumas coisas tenham sim perdido a aura de sagradas.

E isso causa alguma saudade. Algum pesar.

Como coisas que se tornaram menos belas, coisas que se parecem menos com um sonho bom.

Mas outras coisas são apenas ‘vinho transformado em cerveja’.

Que desceram do altar para vir pular junto com a multidão.

Os mais próximos talvez percebam pequenas mudanças. Alguns chamarão isso de amadurecimento. Outros chamarão de outras coisas – porque sempre buscamos nossas definições.

Não perca sua benevolência – disse-me uma pessoa querida.

A poliana em mim rebate: a vida é cheia de peripécias.

E eu acredito nela. Acreditarei sempre. Porque Chaplin é meu guru: o tempo é o melhor autor: sempre encontra um final perfeito. A questão é que a história não se escreve sozinha: nossos corações são canetas: nossos pensamentos, tinta: nossas atitudes, papel.

Em um mês, aproximadamente, enfrentarei, sozinha, meu monstro. Histórias tendem a se repetir. Saberei percorrer o labirinto? Acharei o meu amor? Encontrar-me-ei com reais 28 anos? Habitarei o meu castelo? Serei raciocínio lógico? Acharei entendimento para o meu sentir? São páginas que não existem ainda: e páginas não escritas são como folhas ao vento: voam em qualquer direção.

Mas carrego muitos comigo. Muitos, muitos. Um povoado conhecido e querido. Todos eles são escola para mim. Salinhas de aula que me ensinam sempre. Professores eternos.

A vida é parque de diversões: com banquinha de cachorro-quente, casa de terror, carrossel, maçã do amor, casa de espelhos, carrinho bate-bate e montanha-russa.


O que importa, no entanto, é ser água. É buscar sempre novas formas, é absorver a vida em goles – ora rápidos e sedentos, ora longos e demorados. O que importa é deliciar-se com a vida – à sua maneira. O que importa é saber o que lhe importa. O que lhe enche o coração. O que lhe enfeita a alma. O que lhe faz sorrir genuinamente.

4 comments:

Jana said...

Eu não quero entrar no assunto de quando perdi a virgindade da alma.

Ser líquida é bom, tá em 93% do corpo humano e nem sei mais que tantão (tantinho) no mundo. Quando vc se emputece, vira gás e vai embora, fica com saudades vira chuva, quer ser mais dura e ríspida, vira gelo.

Se vc é liquida, vou ter que ser a etílica pra acompanhar.

Outra que eu estava pensando, se nós duas somos macieiras, vc é a árvore que dá aquela maçã docinha, a do amor, que criança chora qdo derruba no parque. Eu, por outro lado, sou a que tinha a maçã q expulsão Adão e Eva do paraíso.

Lilith forever.

Amor, saudades,

Jana

P.S: Amanhã te ligo pra combinar o negócio da Kamila. Compromisso sábado, é nós. Agende!

Sócio said...

Belo blog, moça de lindo nome...

Sócio said...
This comment has been removed by the author.
Anonymous said...

laninha vc é maravilhosa! sou coruja mesmo!